segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Poema guardado dentro de um álbum de fotografias antigo
vou fazer um anúncio
numa página de jornal
pra tentar encontrar
velhos amigos desaparecidos
velhas promessas esquecidas
e memórias tão antigas
que não sei bem onde
em qual gaveta guardei.
esse anúncio não tem texto
não tem espaço
não tem esperança
passa lá no laço desatado,
o passo dado ao lado do passado
e nada do que foi será.
Rivaldo Júnior
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
pode passar a máquina 2, senhor.
já não vale a insensatez da condição plena
que transborda no vácuo de sentir-me um homem.
as palavras ditas,
mal ou/e bem,
e as pessoas que passam pela rua.
eliminemos os adjetivos que só dão preguiça ao leitor.
já batia dezesseis horas
quando a tesoura
meu reflexo desfigurado
e a angústia
e o pesadelo
e as moscas quentes
no alto daquela gaiola
bem alimentado
bem cuidado
bem amado
um pássaro invisível canta no meu peito
porque nada pode ser tudo que a gente tem.
Rivaldo Júnior
terça-feira, 25 de setembro de 2012
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Maracatu Misterioso (Antonio Nóbrega)
Quem, quem vem, quem vem lá?
Quem, quem vem, quem vem lá?
Que cortejo é aquele, senhor?
Vindo aqui perguntar, quem vem lá?
Sou de casa, vim do Norte,
sou bonito, original,
Sou de paz, não sou de guerra,
vim brincar no carnaval.
Quem, quem vem, quem vem lá?...
Eu sou Misterioso,
como és Imperial.
Sou Mateus, sou Catirina,
na bexiga eu sou o tal.
Quem, quem vem, quem vem lá?...
Sou o Capitão Pereira,
sou madeira, sou fiel.
Esse boi que chega agora,
vem de lá dançar no céu.
Quem, quem vem, quem vem lá?...
Ê boi, ê boi, ê Boi Maravilhoso.
Ê boi, ê boi, venha logo se amostrar.
Ê boi, ê boi, ê Boi Misterioso.
Ê boi, ê boi, chegue logo pra dançar.
Que morra você, meu amor.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
O Amor e a loucura (Jean de La Fountaine)
No Amor tudo é mistério: suas flechas e sua aljava, sua chama e sua infância eterna.
Mas por quê o amor é cego?
Aconteceu que num certo dia o Amor e a Loucura brincavam juntos. Aquele ainda não era cego. Surgiu entre eles um desentendimento qualquer. Pretendeu então o Amor que se reunisse para tratar do assunto o conselho dos deuses. Mas a Loucura, impaciente, deu-lhe uma pancada tão violenta que lhe privou da visão.
Vênus, mãe e mulher, pôs-se a clamar por vingança, aos gritos. E diante de Júpiter, Nêmesis - a deusa da vingança - e de todos os juízes do Inferno, vênus exigiu que aquele crime fosse reparado. Seu filho não podia ficar cego.
Depois de estudar detalhadamente o caso, a sentença do supremo tribunal celeste consistiu em condenar a Loucura a servir de guia ao Amor eternamente.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
tudo isso digo enquanto espero sair daqui
tão angustiante é ser peixe de aquário.
- disse o homem-peixe de cabeça de ar.
astronautas, viagens periféricas
mostram a subserviência popular da revolta
tudo é peixe, feixe e desastres naturais.
a fuga para a terra prometida,
na estrada repetida do lobo frontal.
dentro do espaço semiaberto dos teus olhos azuis
a cor do meu sonho que se manifesta
em oração.
esperava algo além do meu silêncio -
tudo é clichê, meu jovem poeta.
todas as pessoas sabem, não creem e mentem pra si mesmas.
mesmo que o universo ao meu redor
seja apenas palpável à sombra da redoma de vidro
não ousaria, eu, ultrapassar os limites da minha mente.
não querer pode não ser querer, poder, coisas afins e frias.
esvaziar-se do seu próprio vazio, é ganhar do mundo a plenitude do nada.
nada mais.
Rivaldo Júnior
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
Pra Você Dar o Nome (5 a Seco)
Deixa pra lá,
Que de nada adianta esse papo de "agora não dá".
Que eu te quero é agora e não posso e nem vou te esperar,
Que esse lance de um tempo nunca funcionou pra nós dois.
Sempre que der
Mande um sinal de vida de onde estiver, dessa vez.
Qualquer coisa que faça eu pensar que você está bem
Ou deitada nos braços de um outro qualquer, que é melhor
Do que sofrer
De saudade de mim como eu to de você, pode crer!
Que essa dor eu não quero pra ninguém no mundo...
Imagina só, pra você.
Quero é te ver
Dando volta no mundo indo atrás de você, sabe o quê,
E rezando pra um dia você se encontrar e perceber
Que o que falta em você sou eu .
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Juro Por Deus (Filipe Catto)
Juro por Deus, já pensei até mesmo em provar do extremo
De misturar sonrisal, guaraná, rum, cachaça e veneno.
Ou barbitúricos batizados de bourbon.
Quando você me deixou
Dormindo em casa e foi à zorra, amor.
Juro por Deus, já olhei tantas vezes pro quintal
Um nó bem dado bem na corda do varal.
Pra te punir, ou não, quem vai saber?
Não me surpreenderia tua alegria mórbida ao amanhecer
Foi quando o samba chorou outra vez,
E o nó pesado esquecido no peito desfez...
E eu me banhei, eu me perfumei,
E então decidi:
Usar o decote mais abusado que existir.
E eu vou abrir a fenda até o meu umbigo!
E eu vou dormir com aquele teu melhor amigo.
E me matar de ciúme por ti?
Ah! Por favor!
Se é pra morrer,
Que morra você, meu amor.
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
enquanto desço as escadas.
desapegar-se é enfado mais tristonho
quem dera que o meu sonho
ficasse perto de mim.
felicidade é constante infinita
enquanto a vida é bonita
e eterna antes do fim.
mas eu te peço pro bem do meu coração
que tua falta mais não
me deixe tão triste assim.
pois sem você, eu vou morrendo a cada dia
dentro da melancolia
de viver sem ti, enfim.
Rivaldo Júnior
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Noite Fria (Lira)
Eu lembro da fotografia
Brincando na neve em Dublin.
O mesmo sorriso,
A mesma melancolia.
E num telefone outro dia,
Gargalhadas no bar em Sofia.
O mesmo desprezo,
A mesma ironia.
Aqui de tão longe eu sinto
A mesma distância de antes.
Cantar sobre as placas luzentes,
Viver nas tavernas de lama,
Olhando a rua vazia,
Pensando em mudar de casa...
O mesmo motivo,
A mesma incerteza,
A mesma melancolia.
Eu lembro da fotografia -
Você e o céu de Glasgow.
O mesmo sorriso,
A mesma fisionomia.
Recebi uma carta tardia
Num guardanapo de um bar em Berlin.
A mesma tristeza,
A mesma caligrafia.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Poética (Manuel Bandeira)
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.]
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.
- Não quero saber do lirismo que não é libertação
domingo, 22 de julho de 2012
todos os dias, ainda faço questão de me afogar na tua falta

como se não se encaixar em formas e jeitos
entre modos distintos
jeitos perfeitos e gentes.
o poeta é aquele que sente
diferente o que todo mundo sente, assim.
ser diferente. somos todos – digo.
ler drumonnd em versos poucos aos domingos e aos sábados e aos feriados
em tempo.
pouco a pouco percebemos o quanto as pessoas que passam
passam
passam
passam
passam
- repetição desnecessária do autor... ênfase hiperbólica da separação.
como encontrar o que falta entre tantos que faltam,
faltam pessoas
faltam-me.
ser diferente. somos todos – digo.
ler drumonnd em versos poucos aos domingos e aos sábados e aos feriados
em tempo.
pouco a pouco percebemos o quanto as pessoas que passam
passam
passam
passam
passam
- repetição desnecessária do autor... ênfase hiperbólica da separação.
como encontrar o que falta entre tantos que faltam,
faltam pessoas
faltam-me.
preciso encontrar quem ache um pouco mais disso.
nem todas as pessoas do mundo parecem entender
quem e como
somos hoje em dia.
não repare nisso tudo, algo além de nós e sós.
não há e nem que houvesse, mas se puder
e quiser
voe e voe para sempre.
e vá.
nem todas as pessoas do mundo parecem entender
quem e como
somos hoje em dia.
não repare nisso tudo, algo além de nós e sós.
não há e nem que houvesse, mas se puder
e quiser
voe e voe para sempre.
e vá.
Rivaldo Júnior
segunda-feira, 9 de julho de 2012
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Cotovia (Manuel Bandeira)
- Alô, cotovia!
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que saudades me deixaste?
- Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento
Em sítios, que nunca viste,
De um país que não existe . . .
Voltei, te trouxe a alegria.
- Muito contas, cotovia!
E que outras terras distantes
Visitaste? Dize ao triste.
- Líbia ardente, Cítia fria,
Europa, França, Bahia . . .
- E esqueceste Pernambuco,
Distraída?
- Voei ao Recife, no Cais
Pousei na Rua da Aurora.
- Aurora da minha vida
Que os anos não trazem mais!
- Os anos não, nem os dias,
Que isso cabe às cotovias.
Meu bico é bem pequenino
Para o bem que é deste mundo:
Se enche com uma gota de água.
Mas sei torcer o destino,
Sei no espaço de um segundo
Limpar o pesar mais fundo.
Voei ao Recife, e dos longes
Das distâncias, aonde alcança
Só a asa da cotovia,
- Do mais remoto e perempto
Dos teus dias de criança
Te trouxe a extinta esperança,
Trouxe a perdida alegria.
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que saudades me deixaste?
- Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento
Em sítios, que nunca viste,
De um país que não existe . . .
Voltei, te trouxe a alegria.
- Muito contas, cotovia!
E que outras terras distantes
Visitaste? Dize ao triste.
- Líbia ardente, Cítia fria,
Europa, França, Bahia . . .
- E esqueceste Pernambuco,
Distraída?
- Voei ao Recife, no Cais
Pousei na Rua da Aurora.
- Aurora da minha vida
Que os anos não trazem mais!
- Os anos não, nem os dias,
Que isso cabe às cotovias.
Meu bico é bem pequenino
Para o bem que é deste mundo:
Se enche com uma gota de água.
Mas sei torcer o destino,
Sei no espaço de um segundo
Limpar o pesar mais fundo.
Voei ao Recife, e dos longes
Das distâncias, aonde alcança
Só a asa da cotovia,
- Do mais remoto e perempto
Dos teus dias de criança
Te trouxe a extinta esperança,
Trouxe a perdida alegria.
sábado, 23 de junho de 2012
poema pra rosa
rosa, que fala,
que cala e consente
me diz, a semente
que faz-te chorar...
vão dizer que os poetas nada mais são hoje em dia
que o fruto das atividades
cada vez mais necessárias
de técnicas de jardinagem.
ah, rosa.
janela que venta na friagem.
sai daí pra não pegar gripe, menina.
cuida, rosa, venha amarrar as fitinhas de nosso senhor do bonfim
quem tem mais valor.
envelhecer é santo.
o cravo desmaiado é pura enganação.
rosa chora por que ele vem mais não.
não mais pra ali.
Rivaldo Júnior
Fogo sem fuzil (Luiz Gonzaga)
Eu esse ano vou me embora pro sertão,
Pra dançar pelo São João, farrear com mais de mil...
Ver os velhotes atirar de granadeiro
E a moçada no terreiro tira fogo sem fuzil!
E a meninada brinca de "ané",
Pamonha e café sempre na mesa.
E as moreninhas pra servir com alegria
Quando for no outro dia
Tem buchada com certeza.
Pra dançar pelo São João, farrear com mais de mil...
Ver os velhotes atirar de granadeiro
E a moçada no terreiro tira fogo sem fuzil!
E a meninada brinca de "ané",
Pamonha e café sempre na mesa.
E as moreninhas pra servir com alegria
Quando for no outro dia
Tem buchada com certeza.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
sexta-feira, 8 de junho de 2012
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Se os tubarões fossem homens (Bertold Brecht)
Se os tubarões fossem homens, perguntou a filha de sua senhoria ao senhor K., seriam eles mais amáveis para com os peixinhos?
Certamente, respondeu o Sr. K. Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca e adotariam todas as medidas sanitárias adequadas. Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, ser-lhe-ia imediatamente aplicado um curativo para que não morresse antes do tempo.
Para que os peixinhos não ficassem melancólicos haveria grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres têm melhor sabor do que os tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam como nadar alegremente em direção à goela dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar.
O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que este futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente. Acima de tudo, os peixinhos deveriam rejeitar toda tendência baixa, materialista, egoísta e marxista, e denunciar imediatamente aos tubarões aqueles que apresentassem tais tendências.
Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, proclamariam, são notoriamente mudos, mas silenciam em línguas diferentes, e por isso não se podem entender entre si. Cada peixinho que matasse alguns outros na guerra, os inimigos que silenciam em outra língua, seria condecorado com uma pequena medalha de sargaço e receberia uma comenda de herói.
Se os tubarões fossem homens também haveria arte entre eles, naturalmente. Haveria belos quadros, representando os dentes dos tubarões em cores magníficas, e as suas goelas como jardins onde se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos a nadarem com entusiasmo rumo às gargantas dos tubarões. E a música seria tão bela que, sob os seus acordes, todos os peixinhos, como orquestra afinada, a sonhar, embalados nos pensamentos mais sublimes, precipitar-se-iam nas goelas dos tubarões.
Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa no paraíso, ou seja, na barriga dos tubarões.
Se os tubarões fossem homens também acabaria a ideia de que todos os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. Aqueles ligeiramente maiores até poderiam comer os menores. Isso seria agradável para os tubarões, pois eles, mais frequentemente, teriam bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores detentores de cargos, cuidariam da ordem interna entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, polícias, construtores de gaiolas, etc.
Em suma, se os tubarões fossem homens haveria uma civilização no mar.
Certamente, respondeu o Sr. K. Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca e adotariam todas as medidas sanitárias adequadas. Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, ser-lhe-ia imediatamente aplicado um curativo para que não morresse antes do tempo.
Para que os peixinhos não ficassem melancólicos haveria grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres têm melhor sabor do que os tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam como nadar alegremente em direção à goela dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar.
O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que este futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente. Acima de tudo, os peixinhos deveriam rejeitar toda tendência baixa, materialista, egoísta e marxista, e denunciar imediatamente aos tubarões aqueles que apresentassem tais tendências.
Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, proclamariam, são notoriamente mudos, mas silenciam em línguas diferentes, e por isso não se podem entender entre si. Cada peixinho que matasse alguns outros na guerra, os inimigos que silenciam em outra língua, seria condecorado com uma pequena medalha de sargaço e receberia uma comenda de herói.
Se os tubarões fossem homens também haveria arte entre eles, naturalmente. Haveria belos quadros, representando os dentes dos tubarões em cores magníficas, e as suas goelas como jardins onde se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos a nadarem com entusiasmo rumo às gargantas dos tubarões. E a música seria tão bela que, sob os seus acordes, todos os peixinhos, como orquestra afinada, a sonhar, embalados nos pensamentos mais sublimes, precipitar-se-iam nas goelas dos tubarões.
Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa no paraíso, ou seja, na barriga dos tubarões.
Se os tubarões fossem homens também acabaria a ideia de que todos os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. Aqueles ligeiramente maiores até poderiam comer os menores. Isso seria agradável para os tubarões, pois eles, mais frequentemente, teriam bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores detentores de cargos, cuidariam da ordem interna entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, polícias, construtores de gaiolas, etc.
Em suma, se os tubarões fossem homens haveria uma civilização no mar.
quarta-feira, 30 de maio de 2012
aquele homem que chorava, já não chora mais
Há um vazio que preenche-me tão cedo.
Das coisas poucas, que não faço desde o fim
Da rendição da minha palavra, feita assim
Que o sol se pôs e abriguei-me no meu medo.
Conduzo meus passos em traços de segredo
Há milhas de distância de dentro de mim.
Volto pro espaço do tempo d’onde vim
Pro último ato que falta nesse enredo.
Se existira algo vivo batendo em meu peito
Não mais sobrevive, só resta o trauma
E viver só se torna um forçado direito.
Vinde fria saudade, me abraça em tua calma
Pois o que nunca fiz, jamais há de ser feito.
Um salve pros fracos de corpo e de alma!
Das coisas poucas, que não faço desde o fim
Da rendição da minha palavra, feita assim
Que o sol se pôs e abriguei-me no meu medo.
Conduzo meus passos em traços de segredo
Há milhas de distância de dentro de mim.
Volto pro espaço do tempo d’onde vim
Pro último ato que falta nesse enredo.
Se existira algo vivo batendo em meu peito
Não mais sobrevive, só resta o trauma
E viver só se torna um forçado direito.
Vinde fria saudade, me abraça em tua calma
Pois o que nunca fiz, jamais há de ser feito.
Um salve pros fracos de corpo e de alma!
Rivaldo Júnior
segunda-feira, 28 de maio de 2012
aquela velha calça desbotada, ou coisa assim
o que seriam desses detalhes tolos que só agora me vêm a tona se não fosse nós.
o que seriam deles sem a minha memória atrasada
que já não vale mais nada.
o que seria do moletom vermelho
manchado na manga esquerda
sem as noites frias que passamos longe
e a mancha de leite de magnésia
e a virose
e os dias úmidos ao sol.
o que seria daquela tua blusa
I Love Rio
com o terceiro e o quarto botão,
se eu não os tivesse arrancado
e o que seria do teu sutiã, também.
o que seria daquele cd do Roberto
tão triste
que amargurávamos nós dois
entre nós
entre teus óculos de armação vermelha
e minha barba nunca feita
e o chão do meu apartamento
e a chuva doce no basculante alto
e os teus braços frios no meu abraço.
o que seria daquele teu batom que nunca gostei da cor,
mas que preferi não te dizer,
sem os teus beijos manchando minha regata branca
mal tirada
mal jogada
e mal vestida.
o que seria daqueles meios-dias de domingo
ressacados
do teu sorriso forçado ao bom dia no pé do ouvido
do meu braço
dos teus cabelos
do teu sono
seriam e iam ser
o que se fora
já que o hoje nada mais é que o futuro do passado.
pretérito mais que perfeito.
por exemplo,
o que será do teu próximo sete de setembro
sem o meu violão,
e a minha moto,
e ipanema ao entardecer
e os sorrisos
e as promessas
e as besteiras faladas ao mar
e o mar.
lembra? te prometi que faríamos tudo outra vez.
o que será de mim
sem a tua inconstância
sem a tua presença
sem a tua desavença
tua provocação
teu lábio inferior mordido
teu sorrir com os olhos
teu cheiro de vida na minha cama
que insiste em não acordar.
vou juntar-me a esses detalhes
tão pequenos de nós dois
coisas grandes demais pra se esquecer.
espero que não nos esqueça.
eu não esqueço
e nem adianta mais tentar.
Rivaldo Júnior
quinta-feira, 24 de maio de 2012
como são inspiradores, os pingos de chuva!
um dia de chuva é bem deprimente
o mundo chora lá fora,
aqui dentro, a gente sente.
sinto tudo isso
daquilo que não minto mais nada.
as nuvens cinzas, a garoa
tanta vida boa à toa.
escoa.
enxurrada.
um dia de chuva merecia um final feliz.
não fiz.
fez-se.
talvez se as coisas fosses postas
as respostas fossem dadas
cada face fosse dita
e as ditas nuvens não viessem...
poderia desarmar o guarda-chuva e olhar para cima
e esperar chover uma última rima
pra esse pobre poema
- que pena!
chega cá, venha.
eterniza
inferniza
paralisa
catequiza
ameniza...
te gosto muito, basta.
Rivaldo Júnior
terça-feira, 15 de maio de 2012
Assinado eu (Tiê)
Já faz um tempo que eu queria te escrever um som.
Passado o passado, acho que eu mesma esqueci o tom.
Mas sinto que eu te devo sempre alguma explicação.
Parece inaceitável a minha decisão.
Eu sei.
Da primeira vez quem sugeriu,
Eu sei, eu sei, fui eu.
Da segunda quem fingiu
Que não estava ali também fui eu.
Mas em toda a história,
É nossa obrigação
Saber seguir em frente,
Seja lá qual direção.
Eu sei.
Tanta afinidade assim, eu sei que só pode ser bom.
Mas se é contrário, é ruim, pesado, e eu não acho bom.
Eu fico esperando o dia que você
Me aceite como amiga,
Ainda vou te convencer.
Eu sei.
E te peço, me perdoa,
Me desculpa que eu não fui sua namorada,
Pois fiquei atordoada,
Faltou o ar,
Faltou o ar.
Me despeço dessa história
E concluo: a gente segue a direção
Que o nosso próprio coração mandar,
E foi pra lá, e foi pra lá.
Passado o passado, acho que eu mesma esqueci o tom.
Mas sinto que eu te devo sempre alguma explicação.
Parece inaceitável a minha decisão.
Eu sei.
Da primeira vez quem sugeriu,
Eu sei, eu sei, fui eu.
Da segunda quem fingiu
Que não estava ali também fui eu.
Mas em toda a história,
É nossa obrigação
Saber seguir em frente,
Seja lá qual direção.
Eu sei.
Tanta afinidade assim, eu sei que só pode ser bom.
Mas se é contrário, é ruim, pesado, e eu não acho bom.
Eu fico esperando o dia que você
Me aceite como amiga,
Ainda vou te convencer.
Eu sei.
E te peço, me perdoa,
Me desculpa que eu não fui sua namorada,
Pois fiquei atordoada,
Faltou o ar,
Faltou o ar.
Me despeço dessa história
E concluo: a gente segue a direção
Que o nosso próprio coração mandar,
E foi pra lá, e foi pra lá.
quarta-feira, 9 de maio de 2012
o que é próprio das aves que se propõem a falar
senhor, pai santo, que tudo ouves e tudo sabes.
não deixai que essa pobre criatura de penas e bico
seja responsável pela dor do mundo.
já fui, já fiz, já não mais faço, prometo!
a única diferença entre mim e o mundo é a posição do espaço.
eu vivo dentro de mim.
o mundo vive fora de si.
nada cabe perfeitamente no mesmo espaço ao mesmo tempo.
nada merece tanto.
o único problema do afogado é a água em excesso.
sua mágoa revigora nas ladeiras tímidas
cúmplices
transeuntes desorientados entre gentes e ninguém.
não passe a música, gosto dessa, como é mesmo?
"- como quem partiu ou morreu..."
o único problema pai,
é que giramos todos em órbita elíptica
e viramos pó do mesmo pó.
não deixai que essa pobre criatura de penas e bico
seja responsável pela dor do mundo.
já fui, já fiz, já não mais faço, prometo!
a única diferença entre mim e o mundo é a posição do espaço.
eu vivo dentro de mim.
o mundo vive fora de si.
nada cabe perfeitamente no mesmo espaço ao mesmo tempo.
nada merece tanto.
o único problema do afogado é a água em excesso.
sua mágoa revigora nas ladeiras tímidas
cúmplices
transeuntes desorientados entre gentes e ninguém.
não passe a música, gosto dessa, como é mesmo?
"- como quem partiu ou morreu..."
o único problema pai,
é que giramos todos em órbita elíptica
e viramos pó do mesmo pó.
Rivaldo Júnior
terça-feira, 8 de maio de 2012
Infância (Carlos Drummond de Andrade)

Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras.
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu...Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro...que fundo!
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Ponto Cego (Cícero)
Quando
De vez em quando
Talvez um tanto
Faz tanto fez
Passando a vez
De par em par
Le petit prince égoïst
E sua flor de uísque
Em seu planeta sem cor
Mas quem se importa?
Somos
A vez dos zonzos
Talvez enquanto
Quisermos ser
Daqui pra já
Eu e você
Daqui pra lá
Não vai sobrar
Nada pra ser
Mas quem se importa?
É sexta-feira, amor! Sexta-feira!
Tanto
Faz qualquer canto
Pra qualquer santo
Que saiba ler
Que queira dar
Sem receber
Que esteja a par
Do que vai ver
De onde vai dar
Mas quem se importa?
É sexta-feira, amor!
Tem quem queira!
Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão
De vez em quando
Talvez um tanto
Faz tanto fez
Passando a vez
De par em par
Le petit prince égoïst
E sua flor de uísque
Em seu planeta sem cor
Mas quem se importa?
Somos
A vez dos zonzos
Talvez enquanto
Quisermos ser
Daqui pra já
Eu e você
Daqui pra lá
Não vai sobrar
Nada pra ser
Mas quem se importa?
É sexta-feira, amor! Sexta-feira!
Tanto
Faz qualquer canto
Pra qualquer santo
Que saiba ler
Que queira dar
Sem receber
Que esteja a par
Do que vai ver
De onde vai dar
Mas quem se importa?
É sexta-feira, amor!
Tem quem queira!
Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão Giramundocão
quinta-feira, 26 de abril de 2012
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Adiamento (Álvaro de Campos)
Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o rnundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir...
Sim, o porvir...
sexta-feira, 20 de abril de 2012
são sete horas e dadaísmo, senhor.
eu,
quis,
assim, viver,
não.mas, você,
porquê,
desfez, mal-fez,
sorriu,
pra mim,
te dou,
não vou, poderei, chorar,
enquanto,
entretanto,
vivi feliz.
Rivaldo Júnior
quinta-feira, 19 de abril de 2012
propriedade privada
saquem as espadas, soldados!
cruzem as cruzes cruas. as ruas.
- quem vai chorar por eles, se não nós?
Rivaldo Júniorcruzem as cruzes cruas. as ruas.
- quem vai chorar por eles, se não nós?
segunda-feira, 16 de abril de 2012
procriação
para aquilo que o move, promove.
para aquilo que o veja, proveja.
para aquilo que o teste, proteste.
para aquilo que o veja, proveja.
para aquilo que o teste, proteste.
Rivaldo Júnior
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Teresa (Manuel Bandeira)
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Sublime Cruz (Fagundes Varela)
Estrelas
Singelas
Luzeiros
Fagueiros,
Esplêndidos, que o mundo aclarais!
Deserto e mares, - florestas vivazes!
Montanhas audazes que o céu topedais!
Abismos
Profundos!
Cavernas
Externas!
Extensos,
Imensos
Espaços
Azuis!
Altares e tronos,
Humildes e sábios, soberbos e grandes!
Dobrai-vos ao vulto sublime da cruz!
Só ela nos mostra da glória o caminho,
Só ela nos fala das leis de - Jesus!
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