segunda-feira, 28 de maio de 2012

aquela velha calça desbotada, ou coisa assim


















o que seriam desses detalhes tolos que só agora me vêm a tona se não fosse nós.
o que seriam deles sem a minha memória atrasada
que já não vale mais nada.
o que seria do moletom vermelho
manchado na manga esquerda
sem as noites frias que passamos longe
e a mancha de leite de magnésia
e a virose
e os dias úmidos ao sol.
o que seria daquela tua blusa
I Love Rio
com o terceiro e o quarto botão,
se eu não os tivesse arrancado
e o que seria do teu sutiã, também.
o que seria daquele cd do Roberto
tão triste
que amargurávamos nós dois
entre nós
entre teus óculos de armação vermelha
e minha barba nunca feita
e o chão do meu apartamento
e a chuva doce no basculante alto
e os teus braços frios no meu abraço.
o que seria daquele teu batom que nunca gostei da cor,
mas que preferi não te dizer,
sem os teus beijos manchando minha regata branca
mal tirada
mal jogada
e mal vestida.
o que seria daqueles meios-dias de domingo
ressacados
do teu sorriso forçado ao bom dia no pé do ouvido
do meu braço
dos teus cabelos
do teu sono

seriam e iam ser
o que se fora
já que o hoje nada mais é que o futuro do passado.
pretérito mais que perfeito.

por exemplo,
o que será do teu próximo sete de setembro 

sem o meu violão,
e a minha moto,
e ipanema ao entardecer
e os sorrisos
e as promessas
e as besteiras faladas ao mar
e o mar.

lembra? te prometi que faríamos tudo outra vez.

o que será de mim
sem a tua inconstância
sem a tua presença
sem a tua desavença
tua provocação
teu lábio inferior mordido
teu sorrir com os olhos
teu cheiro de vida na minha cama
que insiste em não acordar.

vou juntar-me a esses detalhes
tão pequenos de nós dois
coisas grandes demais pra se esquecer.
espero que não nos esqueça.
eu não esqueço
e nem adianta mais tentar.
Rivaldo Júnior

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