quarta-feira, 29 de dezembro de 2010


E, de um dia pro outro, como se fosse mágica, distâncias encurtam, dilemas se resolvem, destinos se reescrevem. Desejos e realidade ficam de mãos dadas. Como mudar ou se mudar? Como se realizar? Como vencer? Como crescer? Como explicar que o impossível se tornou possível de ontem pra hoje? Surpreender. Se desprender. Ser o que se é. E ir além. Para onde quiser. Planeje. Calcule. Faça e refaça as contas. Faça de conta. Conte até dez. Até onze. Até dois mil e onze. Não desista. Resista. Insista. Persista. Lute até o final. Até o final feliz. Já começou uma nova década. Uma nova dezena de anos. Duas mãos abertas. E você está esperando o quê? Comece. Ou recomece. Erre. Erre. Erre. Erre até acertar. Acerte. Estude. Leia mais. Escreva mais. Desenhe mais. Invente. Se reinvente. Tente o que nunca tentou. Tente o que sempre tentou mas nunca conseguiu. Siga em frente. Seja diferente e ainda seja você mesmo. Recicle e se recicle. Se @tualize. Se comunique. Com ou sem palavras. Com cem palavras. Ou com apenas 140 caracteres. Como ser moderno e tradicional? Coisas que o tempo não leva. Coisas que só o tempo traz. A boa e velha experiência. E novas experiências. Faça o que você nunca imaginou. E faça aquilo que só você sabe fazer. Corra atrás. Corra na frente. Não espere. Espera não é esperança. No jogo de palavras da vida esperança é a primeira. E a última a morrer.  Só que ela não morre. Ela renasce quando nós renascemos. Renasça. Faça de sua vida um livro que seus filhos possam ler e ter orgulho do autor. Feliz 2011!

sábado, 25 de dezembro de 2010

O Sinal Ficou Verde

Eu
Entrei com armas em teu território
Plantei antenas no teu coração
Andei pesado na tua sala
Tal como árvore ou como torre
E abrindo a boca ela devorou
E abrindo os braços fez a dor passar
Primeiro os pássaros
Primeiro a roda
E o pensamento de querer voar

Mas
Deixando marcas
Fazendo som
Aqui se planta pra colher depois
E os mercadores vão pagar pra ver
E aquela onda vai querer passar
É quando mudar a cor da nossa casa
É quando voam os automóveis
Pra outro canto
Um ponto novo
Com tudo aquilo que se refaz

Além do bem
Além do mal
Olhai o sinal ficou verde

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Poema tirado de um trabalho da 3ª Série

Na Terra,
Antigamente existia muitos dinossauros.
Eles eram grandes e fortes e bravos.
Muitos eram carnívoros, e comiam carne.
Uns eram herbívoros.
Eles dominavam a Terra e tudo que nela existia.
Por que eram grandes e fortes e bravos.

Um dia veio um meteoro,
                          e matou todos eles.

Rivaldo Júnior 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Quincas Borba, Capítulo VI (Machado de Assis)

Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos que assim adquire forças para transpor a montanha e  ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. 
- Mas a opinião do exterminado?
- Não há exterminado. Desaparece o fenômeno; a substância é a mesma. Nunca viste ferver água? Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são essas bolhas transitórias.

Autopsicografia (Fernando Pessoa)

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
 
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
 
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A evolução do ser Terra


Sou um homem dissolvido na natureza. Estou florescendo em todos os ipês.” 
(Carlos Drummond de Andrade) 
          Somos incontáveis seres vivos habitantes de uma mesma nave. Perdida no espaço, a Terra representa o maior complexo biótico conhecido. Enquanto isso, nós, seres humanos, representamos a classe mais alta na escala evolutiva. Porém, esse desenvolvimento, como nunca na história da humanidade, está afetando o ciclo contínuo de perpetuação do planeta. É preciso mudanças rápidas e definitivas para garantir a nossa amistosa relação com o mundo em que vivemos.
          Desde infância nos sentimos ligados a um sentimento de universal de cidadão do mundo. Com as novas tecnologias podemos dizer que hoje participamos, de fato, de uma aldeia global. Um grupo constituído não só de seres humanos, mas de todos os organismos vivos, inclusive, o próprio planeta; formando a mais forte relação extraespecífica do universo. Segundo Moacir Gadotti, o âmago de nossas vidas consiste no sentido de identidade com o nosso planeta. Todavia, a forma de desenvolvimento neoliberal-capitalista, formada à base do consumismo desenfreado, acarreta ao planeta uma verdadeira crise produtivo-ambiental.
          Conforme diz a Carta da Terra, documentado apresentado nas Organizações das Nações Unidas no início desse século, a ordem desses novos tempos deve ser relacionar o desenvolvimento humano e econômico à preservação das riquezas naturais, ou seja, desenvolvimento sustentável. Entretanto, a revolução sustentável proposta não se restringe apenas ao campo biológico, mas engloba todos os ramos da sociedade, difundindo-se, inclusive, nas áreas sociais e econômicas, visando o completo progresso humano. Assim, a globalização competitiva tanto quanto a visão capitalista antiecológica são verdadeiras armadilhas no processo biossustentável, já que estão formadas a partir da exploração do homem e do meio. Por sua vez, um capitalismo voltado ao cooperativismo e à evolução do homem, ser e espécie, é a base para as revoluções sustentáveis de todos os níveis da sociedade.
          Esse momento, único e indispensável, foi sonho de muitas gerações e deve ser nossa herança para o futuro. É preciso sonhar, mas com a condição de crer e realizar, escrupulosamente, a nossa fantasia. A teia da vida deverá ser tecida ao longo da história das populações, de modo que se consiga a paz e a harmonia homem-planeta. Lutar por nossos ideais e levar a causa sociossustentável é dever de todo filho de Gaia, a Mãe-Terra. Nosso futuro é o mundo. Nosso endereço é o planeta. Nossa história, nossos sonhos são a Terra.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Testamento de um 3º

         É, eis que chega o fim. Acabou. Cada um de nós, agora, somos donos dos nossos narizes. Cada um de nós, de agora em diante, somos responsáveis por nossas escolhas e nossos atos. O ensaio terminou, a vida nos espera. Agora é o momento de mostrar-nos quem somos e o que realmente queremos para a nossa vida. Por isso, não, não é o fim. Não é o término, mas sim, o início de um novo momento, de uma nova etapa. Um novo passo a ser dado. O ensino médio passou como uma chuva de verão, quente e suave. Este ano então, podemos dizer, sem medo do futuro, que foi o melhor ano de nossas vidas. Também só podia ter sido. Vivemos com pessoas que fizeram parte e sempre estarão conosco em nossa caminhada. Criamos laços. Vivemos momentos inesquecíveis, histórias que ficarão pra sempre em nossa memória. Festas, desde forrós no sítio até aniversário de um professor único. Criamos uma relação que nada, nem o tempo ou o espaço, poderá apagar. Vencemos. Chegamos ao topo de nossa vida escolar. E tudo isso de uma forma tão natural, tão simples, tão bela. Construímos neste ano, seja no calor humano de nossa turma ou no friozinho bom danado da sala de vídeo, histórias de uma história que rompe as barreiras da separação. Por que o eterno sempre dura. Dura pra sempre. E se lembra quando a gente chegou um dia acreditar que tudo era pra sempre sem saber que o pra sempre, sempre acaba.  Pois é, acaba. Mas não acaba assim, em meio lagrimas e soluços, não. Nossa turma não é disso; Nossa turma é de festa, de alegria, de revolução.  De fazer luto e abaixoassinado em favor de um ente que partiu desse turno para um, digamos, melhor. E é uma turma também de por medo em professor. Quantos de biologia ja nos ensinaram? Gente, por gentileza; depois de três outros, foi necessaria uma professora firme e forte para nos domar. E falando nesse povo que teima em querer por conhecimento em nossas cabeças, só temos a dizer: Obrigado. Obrigado Viviane por tantos Sentem e façam a tarefa, agora; que se tornam mais um simples detalhe na nossa relação. Obrigado Givanildo por tantos discursos eternos que ninguém sabe ao certo o que quer dizer... E a criança Hélder, valeu por abrir o nosso coração pra Jesus, e por deixar o nosso quadro intacto... Enquanto física, bem passamos essa parte, a amizade é a mesma. Das nossas professoras estrangeiras, Roberta, mais do que qualquer professor conhece essa turma, afinal foram 11 anos em nossa companhia, e Dyrce, só conhece Dyrce quem conhece Dyrce e seu Cerrem sus libros, ahora; Thank you y Gracias. Valeu mestre Adilson, por toda a sua convivência com essa galera. E Alex? Ah, ALEX. Um verdadeiro onívoro cultural, um amigo dos melhores de nossa turma, porque ser amigo é isso Alex, aguentar até a ultima gota de paciência e querer sempre o melhor do outro. Aqui, portanto 42 sinceros obrigados de amigos seus. E quer um conselho de amigo? Seja mais humilde, homem; alias sejamos todos mais humildes em reconhecer que o que somos depende muito de vocês. Voltando a esta turma, e que turma; tão heterogênea e igual. Especial. Em todos os prismas e sentidos. Das gargalhadas de Haline e as viajadas de Heron. Das brincadeiras de Clara, de seu vocabulário tao distinto. Que absurdo; Do caso mal resolvido de José Breno e Ricardo, que não se separam, e de mel, Meu mel. De um representante que vai com seu cabelo de Rodrigo Hilbert a David Beckham. E de uma pessoa que tanto fala na sala... né Carol? E também uma pessoa eu vive em dúvida, chora não Bia. E claro não podemos esquecer um motoboy de um cabelo que faz sucesso por onde passa. E se por acaso um problema lhe atingir, você pode contar com o maravilhoso chá de Maria, cura gripe, dor de cabeça, enjoo, deslocamento de joelho de Caíque e até mesmo desmaios de José Breno.  Contudo, pra quê o cha se nós temos uma enfermeira na sala? Do quarto pra piscina e da piscina pro quarto. E claro um colega nosso eu sempre esta presente: Jonh Nash. É, foram tantos momentos, tantas histórias. Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: "quem são essas pessoas?" Diremos que eram nossos amigos e isso vai doer tanto! Foram meus amigos. São meus amigos. E foi com eles que eu já fiz coisas incríveis. Já abracei pra proteger, já dei risada quando não podia, já fiz amigos eternos, já amei e fui amado, mas também já fui rejeitado, já fui amado e não soube amar. Já gritei e pulei de tanta felicidade, já vivi de amor e fiz juras eternas, mas "quebrei a cara" muitas vezes!Já chorei ouvindo música e vendo fotos, já liguei só pra escutar uma voz, já me apaixonei por um sorriso, já pensei que fosse morrer de tanta saudade e... Tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo)! Mas sobrevivi! E ainda vivo
Não passo pela vida...  E você também não deveria passar. Viva!!!
Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve...                                 

 “E A VIDA É MUITO para ser insignificante”.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O Cordel Estradeiro (Cordel Do Fogo Encantado)

A bença Manoel Chudu
O meu cordel estradeiro
Vem lhe pedir permissão
Pra se tornar verdadeiro
Pra se tornar mensageiro
Da força do teu trovão
E as asas da tanajura
Fazer voar o sertão

Meu moxotó coroado
De xiquexique facheiro
Onde a cascavel cochila
Na boca do cangaceiro
Eu também sou cangaceiro
E o meu cordel estradeiro
É cascavel poderosa
 
É chuva que cai maneira
Aguando a terra quente
Erguendo um véu de poeira
Deixando a tarde cheirosa
 
É planta que cobre o chão
Na primeira trovoada
A noite que desce fria
Depois da tarde molhada

É seca desesperada
Rasgando o bucho do chão

É inverno e é verão

É canção de lavadeira
Peixeira de Lampião
 
As luzes do vaga-lume
Alpendre de casarão
A cuia do velho cego
Terreiro de amarração
O ramo da rezadeira
O banzo de fim de feira
Janela de caminhão

Vocês que estão no palácio
Venham ouvir meu pobre pinho
Não tem o cheiro do vinho
Das uvas frescas do Lácio
Mas tem a cor de Inácio
Da serra da Catingueira
Um cantador de primeira
Que nunca foi numa escola
 
Pois meu verso é feito a foice
Do cassaco cortar cana
Sendo de cima pra baixo
Tanto corta como espana
Sendo de baixo pra cima
Voa do cabo e se dana.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Um poema concreto

M  U   
P  NS  ME  T   
É   
M  IS    
R ´ PI  O  
QU   
AS  
  INH  S 
MA   S.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Falar sem dizer nada


    Somos muito redundantes. Repetimos, obcecados, as mesmas ideias que já formulamos. Na mesma frase acumulamos informações superpostas, congestionando o trânsito verbal. Empilhamos uma em cima da outra (e seria possível empilhar de outra forma?) as palavras dessa torre de Babel. Perdemos tempo (nosso e alheio) empregando demasiado tempo para se dizer que o tempo não se pode perder. Acrescentando ao dito o que, não-dito, melhor seria não dizer.
    Quando eu chovo, chovo no molhado, o que provoca uma enchente de ideias inúteis. O velho ”SUBIR PARA CIMA” e o mais velho ainda “DESCER PARA BAIXO”.
    Um escritor anuncia na entrevista: ”Estou escrevendo a minha autobiografia”. Maior feito literário seria escrever a autobiografia de outra pessoa. O político afirma no discurso: “Não há outra alternativa!” Mau sinal... Por que mencionar essa outra se alternativa significa justamente outra opção? O garçom comunica: “Servimos canja de galinha”. A canja só pode ser de galinha, a menos que falte galinha nessa canja! O médico pontifica: “O terçol nos olhos é um problema corriqueiro.” Então porque não deixar a palestra para o dia em que o terçol atingir outros órgãos?
    A socióloga debate: “O elo de ligação que une essas pessoas...”. O historiador observa: “Os faraós do Egito”. O economista analisa: ”Os preços aumentaram mais”. A professora interpreta: “O principal protagonista do romance”. O senhor da praça pede: “Você pode repetir de novo?”. O agrônomo conclui: ”Foi culpa dos agrotóxicos que adentraram no interior do solo”. O cantor canta: “Detalhes tão pequenos...”. E alguém, cansado de tanta redundância, diz: ”Precisamos encarar de frente esse problema da redundância!”. Bem, se fôssemos encarar de costas seria um baita torcicolo!

sábado, 13 de novembro de 2010

Um poema à dois

À um pedaço de Mel.


Ame, não fale, demonstre.
Viva, o tempo não espera.
Hoje é o melhor dia de sua vida,
Tudo pode ser diferente.
Faça acontecer o novo
Junte tudo o que você tem de bom.
Neste momento, descobrirás
Que a felicidade realmente existi.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Marca d'lágrima

    Há dias já me abateu o desejo de escrever-vos esta pequena passagem. Faltava, porém, disposição e a inspiração necessária para que eu pudesse sentar-me e dedicar ao teclado as letras aqui dispostas. Contudo; minha preguiça foi vencida pela inconstância do meu cérebro em por as vozes do inconsciente pra fora. 
    Um relógio digital piscava no alto de uma parede. Na pressa da multidão meus passos se confluíam no som que as outras pegadas invisíveis deixavam no concreto. O trem já estaria chegando. Enquanto ele não chegara, procurei um lugar a fim de descansar meu corpo. Avistei um assento e fui a sua direção. Sentei. Ao meu lado, o vazio me acompanhava. Quanto invisíveis somos no meio de tanta gente! De repente, uma moça magra de traços sutis sentou apressada ao meu lado. Pôs a mão no rosto e começou a chorar.
    Nesse momento, um grito de desespero invade a minha alma. Por que a moça estaria chorando? Fiquei imóvel. Ela, coitada, gemia em soluços paulatinos. Fungava. Tremia. Chorava. Sua dor me comoveu. Mas uma força, dessas que só aparecem nos momentos mais indesejáveis, calava-me. À toa. Deveria lhe oferecer ajuda? Mas se ela não gostasse? Se achasse uma intromissão, uma falta de respeito, um entrar em assuntos que não me interessavam? Fiquei calado. Por mais que gritasse, ninguém me ouvia.
    A moça parou de chorar. Retirou de sua bolsa um lenço que levou aos olhos, que já estavam secos de lágrimas. Ficou séria, um pouco rubra. Em sua volta dezenas de corpos a olhavam paralisados. Pareciam frias estátuas de madeira. Bonecos de bronze. E eu era um desses. Uma nova lágrima caiu no chão. Dessa vez sem tantos soluços, mas silenciosamente, cortante. Ela voltara a chorar e eu, insignificantemente, permaneci estático. Um barulho se aproximava. Movimento na estação.
    Como a viajem era longa, procurei um assento, de preferência próximo à janela, onde as imagens distraíam-me e diminuiam o trajeto. Porém, do vidro embaçado apenas extraia-se o vulto da jovem que permanecia enxarcando as mãos. Todavia, mesmo com a sua sombra esvaindo-se à medida que a máquina de ferro rachava os trilhos, ficou intacta em minha alma uma marca de uma lágrima.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mais uma vez (Renato Russo)

Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez eu sei
Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem.

Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja a nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!

domingo, 17 de outubro de 2010

Poema de Sete Faces (Carlos Drummond de Andrade)

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.


O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.


O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.


Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Na Sua Estante (Pitty)

Te vejo errando e isso não é pecado,
Exceto quando faz outra pessoa sangrar
Te vejo sonhando e isso dá medo
Perdido num mundo que não dá pra entrar
Você está saindo da minha vida
E parece que vai demorar
Se não souber voltar ao menos mande notícias
Cê acha que eu sou louca
Mas tudo vai se encaixar


Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu



Você tá sempre indo e vindo, tudo bem
Dessa vez eu já vesti minha armadura
E mesmo que nada funcione
Eu estarei de pé, de queixo erguido
Depois você me vê vermelha e acha graça
Mas eu não ficaria bem na sua estante


Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres e outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu



Só por hoje não quero mais te ver
Só por hoje não vou tomar minha dose de você
Cansei de chorar feridas que não se fecham, não se curam
E essa abstinência uma hora vai passar...

domingo, 10 de outubro de 2010

Tenho medo


Tenho medo de me encontrar.
Tenho medo de me perder.
Tenho medo de me achar.
Tenho medo.

Na vidraça fria, lágrimas escorrem.
O mundo chora.
O frio me renega a vida,
O sangue d’alma escorre dos meus olhos.

Dói
Fere
Mata.

O cobertor já não me faz companhia. 
Rivaldo Júnior

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cavador do Infinito (Cruz e Souza)

Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.

Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito
Sente, em redor, nos astros [inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico Infinito.

E quanto mais pelo Infinito cava
mais o Infinito se transforma em [lava
E o cavador se perde nas [distâncias...

Alto levanta a lâmpada do Sonho.
E como seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias!

sábado, 2 de outubro de 2010

Monólogo de Hamlet (William Shakespeare)


Ser, ou não ser - eis a questão.
O que é mais nobre para a mente sofrer
Os dardos e setas de destino cruel
Ou pegar em armas contra um mar de desgraças
E pela resistência pôr-lhes fim? Morrer, dormir;
Nada mais? E com o sono, dizem, terminamos
O pesar do coração e os inúmeros naturais conflitos
Da carne herdados. Eis um epílogo
Devotamente desejado. Morrer, dormir.
Dormir - sonhar talvez. Eis a dificuldade.
Nesse sono da morte, que sonhos virão
Quando nos libertarmos do invólucro mortal
Devemos nos deter. Aí está a reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria os insultos e desdéns do tempo,
A injúria do opressor, a afronta do soberbo,
As angústias do amor desprezado, a morosidade da lei,
As insolências do poder, e as humilhações
Que o mérito paciente tem do indigno,
Quando ele próprio pudesse encontrar repouso
Com uma lâmina nua?
Quem suportaria tão duras cargas,
Gemendo e suando sob uma vida penosa,
Se não fosse o temor de algo após a morte -
Região misteriosa, fronteira de onde
Nenhum viajante retornou - confundindo a vontade,
E impelindo-nos a suportar os males que nos afligem
Em vez de nos lançarmos a outras que não sabemos?
Assim nossa consciência nos faz covardes em tudo.
E assim a cor nativa de nossas resoluções
Se debilita na pálida sombra do pensamento,
E as empreitadas de maior alento e importância
Com semelhantes reflexões desviam seu curso
E perdem o nome de ação.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Chover (Cordel do Fogo Encantado)

"O sabiá no sertão
Quando canta me comove,
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove"

Chover chover
Valei-me Ciço o que posso fazer
Chover chover
Um terço pesado pra chuva descer
Chover chover
Até Maria deixou de moer
Chover chover
Banzo Batista, bagaço e banguê

Chover chover
Cego Aderaldo peleja pra ver
Chover chover
Já que meu olho cansou de chover
Chover chover
Até Maria deixou de moer
Chover chover
Banzo Batista, bagaço e banguê

Meu povo não vá simbora
Pela Itapemirim
Pois mesmo perto do fim
Nosso sertão tem melhora
O céu tá calado agora
Mais vai dar cada trovão
De escapulir torrão
De paredão de tapera

Bombo trovejou a chuva choveu

Choveu choveu
Lula Calixto virando Mateus
Choveu choveu
O bucho cheio de tudo que deu
Choveu choveu
suor e canseira depois que comeu
Choveu choveu
Zabumba zunindo no colo de Deus
Choveu choveu
Inácio e Romano meu verso e o teu
Choveu choveu
Água dos olhos que a seca bebeu

Quando chove no sertão
O sol deita e a água rola
O sapo vomita espuma
Onde um boi pisa se atola
E a fartura esconde o saco
Que a fome pedia esmola

Seu boiadeiro por aqui choveu
Seu boiadeiro por aqui choveu
Choveu que amarrotou
Foi tanta água que meu boi nadou.

Ave-palavra


Palavra não é coisa para se deixar no fundo da gaveta, mofando. Palavra, quando nasce, é para você cuidar, botar roupa nova, dar vitamina e sair para passear com ela, até ficar bobalegre. Toda palavra é uma criança: brota batata no céu da boca e se esparrama pelo chão das más línguas. Aí, vira palavrão. Como o primeiro verso que aprendemos na infância, a palavra dorme com a mão no coração. Chora de noite, nas repartições da consciência. Na falta desta, berra no sonho. E derrama lágrimas de conta-gotas na garrafa dos últimos pesadelos. Nesse caso a palavra pode virar rio, oceano, tempestade, maremoto. E inundar os mais bem guardados abismos. Por isso é preciso ter cuidados. Palavra, quando adoece, não tem remédios. Se perde o sono, o jeito é apelar para o Lexicotan (um palavrão antidistônico, filho da gíria e do jargão, primo do Bichionário, e irmão da Desgramática). O Lexicotan pode ser dissolvido no chá da mamadeira verbal. Assim a palavra ronca, ressona. E acorda falando.
         Quando a palavra cresce, é preciso escolher os amigos dela. Aproximá-la de outras palavras que possam torná-la mais bonita. Toda palavra é adolescente. Confusa, medrosa, gorda, insegura, magrela, entediada, nariguda ou autoritária. Essa palavra, quase sempre, não sabe o que quer. Então, é necessário um diálogo, um papo firme, bem franco. Às vezes, um limite: castigo, puxão de orelhas, corte de mesada, para que ela possa florescer como as roseiras depois da poda. Aí, talvez, só pra contrariar, ela vai ler O Pequeno Príncipe. Em seguida, virar manequim, top-model, miss. Você vai ter que dar o braço a torcer, argumentando apenas que isso é brega, ultrapassado. Mas não haverá mais o que fazer. Outros ficarão de olho nela, admirando as medidas perfeitas, os efeitos especiais, as curvas... Essas curvas com as quais poderia ela, um dia, botar um rapaz a se perder: o rapaz e suas convicções mais profundas... E não adianta ter ciúmes de sua palavra. Ela já conheceu Freud, já se apaixonou por Lacan e já dormiu com Jung debaixo do travesseiro. Pior: já devorou todos os “paulocoelhos” dessa vida.
         A palavra pode ser fatal. Quando vira mulherfeita, é outro perigo. Nessa fase, é preciso ter cuidado redobrado: a palavra madura é armadilha volátil, retrátil, e ao mesmo tempo substantiva. Nunca está só, porque agora, com vida própria, já escolheu seus advérbios-parceiros, seus jovens e adjetivos-amantes. E mais: os astutos e quase invisíveis pronomes. No encalço desses você terá que colocar detetives. Gente do naipe de Sherlock Holmes ou Hercule Poirot. A explicação é simples: os pronomes não deixam pistas. E são dificílimos de seguir, de segurar, ou de prender. E é preciso ter jogo de cintura, coragem, disposição e sangue frio para “abater” o pronome-passarinho que está importunando sua palavra. Há casos, na empreitada, em que se faz necessário contratar pistoleiros de aluguel. Desses que não erram a pontaria. E fazem o serviço limpo, sem alarde. Conheço um, por exemplo, que é especialista em dar cabo nos “pronomes impessoais do caso reto”. Adora eliminá-los em qualquer lugar, seja lá em Santana do Vão Vernáculo, ou em Vila Velha da Nova Ortografia. No fim da limpeza, sopra o cano do revólver e o enfia novamente no coldre. Depois, calmamente, acende um cigarro-de-palha, monta no cavalo-de-pau e some no poente. The End. E lá está o bicho-pronome no chão, estatelado, como um artigo definido.
         Numa certa tarde de inverno, sua palavra cisma de ganhar o mundo. Vai embora. E se casa com um ruído pós-moderno. Mas, logo em seguida, eis a separação. Ela já quer o divórcio, exige pensão alimentícia, e você argumenta: “Deixa disso. Pensão alimentícia é coisa ultrapassada, machista. São os dois que cometem o erro, reconhecem o erro, e só um paga por ele”. Mas não adianta. Sua palavra volta para casa com um monte de palavrinhas-netinhas pra você criar. Algo assim como Catabulerindobível, aquela palavra que James Joyce inventou pra ficar se coçando na hora do banho!
         Depois ela envelhece. Enrugada, gorda, decadente, murcha, esclerosada, tenta se manter de pé. Faz lipoaspiração aqui, coloca implante ali, plástica acolá. Se renova toda, inventa roteiros transatlânticos. E la nave va...
         Quando retorna, você não mais a reconhece. Está recauchutada como um gato de dezessete vidas. Sua velha conhecida volta novamente criança, pra que você possa lhe ensinar o mito da Fênix.
         Fênix? Zupt! Um pensamento mal enjambrado, e ela renasce das cinzas, plena, cheia de vida. (Renascer: algo que você não consegue durante a vida inteira, por covardia, ou por faltam de uma firula que os amigos chamam de “personalidade definida”). Mas ali está ela, à sua frente, o novo rabo da lagartixa. O tempo reciclado cheio de palavras. Por isso já decidi: “Na outra encadernação quero voltar como livro!”. E basta.
         Tem gente que possui muitas palavras guardadas no armário-dicionário de suas vidas. Não sei o que é ter muitas dessas, graças a Deus. Só tenho uma que é fundamental: Mãe, que também é uma palavra que pode se chamar Eugênia. E também Sebastiana, Zindinha, Diva, Maria de Lourdes, Angelina ou outras Ângelas, e outras Marias. Ou mãe que também pode se chamar Graça, que é uma palavra que dorme comigo, que me acende o Sol, e vale por sete mil amores. Ou mãe que pode se chamar Larissa: uma palavra-filha que todo dia me acorda da Lua, me põe no mundo outra vez, e é sinônima de “alegria”: uma outra forma de dizer “felicidade”.

SETTE, Graça; PAULINO, Maria Ângela; STARLING, Rozario.
Transversais do mundo – Leituras de um tempo; Belo Horizonte: Lê, 1999.

domingo, 26 de setembro de 2010

O que eu não sou (Chicas)

Eu não sou poeta nem quero ser
A canção eu fiz pra sobreviver
Coração aperta, canto pra respirar
Toco minha viola pra poder sonhar

Eu não quero nada que faz doer
Quero amar o mundo, quero amar você
Quando você não está
Eu vou tocar tambor
Extraviar no pulso toda a minha dor

Um dia o amor acaba
Invade a dor deságua
Transborda minha alma
Vazia está agora

Eu não sou maluco nem quero ser
Mas a noite passa
E eu não vou dormir
As flores me agradam
Tentam me colorir
Toco uma toada pra poder te ouvir

Eu não sou ateu nem quero ser
Deus te abençoe rezo por você
Eu vou tocar a flauta pra me despedir
De longe minha alma vai velar por ti.

sábado, 25 de setembro de 2010

Manuscrito


Ponho-me a escrever a mão.
Sei que não devo,
Não me importa.
Apenas escrevo.

Escrevo porque é natural.
Escrevo, pois sei que as folhas não mentem.
Escrevo para dizer que te amo.

Encurtar distâncias
Olhar a tua letra
Sentir a tua expressão.

Chega de teclas nos separando.
Chega de faces artificiais.
Ponho-me a escrever a mão.

Quero sentir-te,
Olhar-te,
Ver-te.
E escrever, enquanto houver ponta no lápis
E você no meu coração.
Rivaldo Júnior

Amar (Carlos Drummond de Andrade)

Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita
.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O Outro Eu

     Por mais que eu insistisse, o sono não passava. A cortina escura deixava escorrer uns raios de sol que pareciam ser mandados diretos para mim. O relógio alertava-me da pressa em acordar. Teria um dia corrido. Levantei -me e fui ao banheiro, torneira aberta, lavei meu rosto mal-barbeado, olhei o espelho.
     Nesse momento, uma nova feição de mim mesmo me foi apresentada. Um outro eu olhava-me espantado como se não reconhecesse o seu observador. Eu, não menos diferente, encarava-o, examinava-o, apreciava detalhadamente toda aquela imagem trivial e desconhecida. Era eu. Não, não era eu, era um outro eu. Talvez mais velho, mais acabado, mais longínquo. Porém a lógica do espelho refletia ao meu pensamento a certeza de ser eu, agora e sempre, e o vácuo e a tristeza do meu olhar.
     E, mesmo sabendo que era a minha imagem, era como se eu fosse apresentado a um estranho, um parente esquecido, ou pelo espaço ou pelo tempo. Mas aos poucos me reconhecia por pequenos traços da minha fisionomia. Via, gradativamente, aquela criança do interior, minha mãe, meu pai. Meu pai. E sua cansada rotina de mestre da vida. Pouco conhecimento, mas muita sabedoria. Um homem sábio. E via neste homem sábio, o do espelho, a questão infinita do “ser ou não ser?”. No seu sorriso, porém, a sincera concepção de ser e saber que era o mesmo jovem revolucionário de desejos e sonhos incontáveis. Silêncio.
    O barulho do relógio lembrou-me da hora e do longo dia que teria de cumprir. O espelho depois da distração, já não me fitava da mesma maneira, curioso, sombrio. Contudo, nem Sócrates e toda a sua filosofia puderam, como naquela manhã, me autorrevelar e mostrar a mim mesmo a verdadeira face de mim.

Rivaldo Júnior

Me deixa - O Rappa

Pode avisar, pode avisar
Invente uma doença que me
Deixe em casa pra sonhar
Pode avisar, podem avisar
Invente uma doença que me
Deixe em casa pra sonhar

Com o novo enredo outro dia de folia
Com o novo enredo outro dia de folia

Eu ia explodir, eu ia explodir
Mas eles não vão ver os meus pedaços por aí
Eu ia explodir, eu ia explodir
Mas eles não vão ver os meus pedaços por aí

Hoje eu desafio o mundo
Sem sair da minha casa
Hoje eu sou um homem mais sincero
E mais justo comigo
Hoje eu desafio o mundo
Sem sair da minha casa
Hoje eu sou um homem mais sincero e
Mais justo comigo

Podem os homens vir que
Não vão me abalar
Os cães farejam o medo,
Logo não vão me encontrar
Não se trata de coragem
Mas meus olhos estão distantes
Me camuflam na paisagem
Dando um tempo,
Pra cantar

Me deixa, que hoje eu tô de
Bobeira, bobeira
Me deixa, deixa
Que hoje eu to de
Bobeira, bobeira