quinta-feira, 25 de julho de 2013

Soneto XIII; Via-Láctea (Olavo Bilac)




"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
 Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

geralmente, da pior forma possível




eu quis fazer um poema
que retratasse a insônia perdida,
e a esperança enforcada.
o medo feliz e a realidade dura.
pra evitar novas decepções.

eu quis fazer um poema
que mostrasse um mundo novo,
pessoas acordando,
dando abraços e risadas.
e fogos de artifício
pra enganar a realidade.

eu quis fazer um poema
que não fizesse referências
ao que eu sou
em carne, osso e tristeza.
para não sofrer ainda mais,
tão moço eu sou.

mas o poema que me veio, senhores,
da janela do meu quarto,
foi um circo de lona alaranjada,
secando frio depois da chuva.
decepcionado,
real,
eu.

Rivaldo Júnior

Canteiros (Fagner)





Quando penso em você,
Fecho os olhos de saudade.
Tenho tido muita coisa,
Menos a felicidade.
Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento.
Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento.


Pode ser até manhã,
Sendo claro, feito o dia,
Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria.


Eu só queria ter do mato um gosto de framboesa,
Pra correr entre os canteiros e esconder minha tristeza.


E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza...
E deixemos de coisa, cuidemos da vida,
Pois se não chega a morte
- Ou coisa parecida -
E nos arrasta, moço,
Sem ter visto a vida.


É pau, é pedra, é o fim do caminho.
É um resto de toco, é um pouco sozinho.
É um caco de vidro, é a vida, é o sol.
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol.


São as águas de março fechando o verão
É promessa de vida em nosso coração.