Nesse momento, uma nova feição de mim mesmo me foi apresentada. Um outro eu olhava-me espantado como se não reconhecesse o seu observador. Eu, não menos diferente, encarava-o, examinava-o, apreciava detalhadamente toda aquela imagem trivial e desconhecida. Era eu. Não, não era eu, era um outro eu. Talvez mais velho, mais acabado, mais longínquo. Porém a lógica do espelho refletia ao meu pensamento a certeza de ser eu, agora e sempre, e o vácuo e a tristeza do meu olhar.
E, mesmo sabendo que era a minha imagem, era como se eu fosse apresentado a um estranho, um parente esquecido, ou pelo espaço ou pelo tempo. Mas aos poucos me reconhecia por pequenos traços da minha fisionomia. Via, gradativamente, aquela criança do interior, minha mãe, meu pai. Meu pai. E sua cansada rotina de mestre da vida. Pouco conhecimento, mas muita sabedoria. Um homem sábio. E via neste homem sábio, o do espelho, a questão infinita do “ser ou não ser?”. No seu sorriso, porém, a sincera concepção de ser e saber que era o mesmo jovem revolucionário de desejos e sonhos incontáveis. Silêncio.
O barulho do relógio lembrou-me da hora e do longo dia que teria de cumprir. O espelho depois da distração, já não me fitava da mesma maneira, curioso, sombrio. Contudo, nem Sócrates e toda a sua filosofia puderam, como naquela manhã, me autorrevelar e mostrar a mim mesmo a verdadeira face de mim.
Rivaldo Júnior
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