Somos muito redundantes. Repetimos, obcecados, as mesmas ideias que já formulamos. Na mesma frase acumulamos informações superpostas, congestionando o trânsito verbal. Empilhamos uma em cima da outra (e seria possível empilhar de outra forma?) as palavras dessa torre de Babel. Perdemos tempo (nosso e alheio) empregando demasiado tempo para se dizer que o tempo não se pode perder. Acrescentando ao dito o que, não-dito, melhor seria não dizer.
Quando eu chovo, chovo no molhado, o que provoca uma enchente de ideias inúteis. O velho ”SUBIR PARA CIMA” e o mais velho ainda “DESCER PARA BAIXO”.
Um escritor anuncia na entrevista: ”Estou escrevendo a minha autobiografia”. Maior feito literário seria escrever a autobiografia de outra pessoa. O político afirma no discurso: “Não há outra alternativa!” Mau sinal... Por que mencionar essa outra se alternativa significa justamente outra opção? O garçom comunica: “Servimos canja de galinha”. A canja só pode ser de galinha, a menos que falte galinha nessa canja! O médico pontifica: “O terçol nos olhos é um problema corriqueiro.” Então porque não deixar a palestra para o dia em que o terçol atingir outros órgãos?
A socióloga debate: “O elo de ligação que une essas pessoas...”. O historiador observa: “Os faraós do Egito”. O economista analisa: ”Os preços aumentaram mais”. A professora interpreta: “O principal protagonista do romance”. O senhor da praça pede: “Você pode repetir de novo?”. O agrônomo conclui: ”Foi culpa dos agrotóxicos que adentraram no interior do solo”. O cantor canta: “Detalhes tão pequenos...”. E alguém, cansado de tanta redundância, diz: ”Precisamos encarar de frente esse problema da redundância!”. Bem, se fôssemos encarar de costas seria um baita torcicolo!
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