quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Soneto da Hora Final (Vinicius de Moraes)



Será assim, amiga: um certo dia,
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente,
O beijo leve de uma aragem fria.

Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia...
Para a porta de trevas, aberta em frente.

Ao transpor as fronteiras do segredo
Eu, calmo, te direi: - Não tenhas medo
E tu, tranquila, me dirás: - Sê forte.

E como dois antigos namorados,
Noturnamente tristes e enlaçados,
Nós entraremos nos jardins da morte.

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