sexta-feira, 8 de julho de 2011

De guarda-chuva armado




















Chovia ontem na feira.
Chovia ontem.
Chovia tomates, pepinos e alfaces.
Chovia dinheiros.
Chovia gentes.
Fazia frio e chovia gentes.
Chovia na feira ontem.

Pelas ruas lamacentas guarda-chuvas passavam.
Uma correnteza de guarda-chuvas
Se tocavam e se batiam
E passavam pelas ruas lamacentas.

Chovia restos velhos de um homem,
Ou talvez fossem apenas restos espalhados pelo chão...
Chovia e misturavam-se à lama e à esmola.
Choviam bêbados na esquinas
E sobre eles as moscas varejeiras
Choviam bêbados e inundaram as moças que passavam.
Chovia meninos sujos na bica
Chovia gripes e pneumonias
Chovia risadas molhadas que a tristeza estiou.

Chovia a pressa.
O preço.
A pressão antecipada.
Passos profundos.
Profanos.
Proféticos
Poéticos.
Pessoas apressadas.
Passageiras.
Peças e peçonhas.
Vermes e vergonhas.
Pensamentos.
Choveu e ficaram as poças.

Cheguei em casa todo molhado...
Deixei o guarda-chuva armado no terraço,
Pus o disco dos Beatles,
Aquele que há meses não ouvia.
E fiquei observando a chuva cair
E imaginando como é difícil andar na feira com o guarda-chuva armado.

Rivaldo Júnior

Um comentário:

  1. olá Rivaldo passei para retribui a visita e me deparei com com suas palavras... simplesmente amei... parabens...

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