Acordei. Deus estava sentado, exausto, na sala de jantar.
Aproximei-me dele, que me olhou contrito, a expressão de viajante sem rumo nem bagagem. Quis ajudá-lo. Ofereci-lhe água, o que aceitou, bebendo dois goles fartos,
Devolveu-me o copo, vazio, o qual guardei em seguida.
Voltei à sala. Continuava ali, esperando por mim.
Parecia traquilo e ansioso ao mesmo tempo, se é que isto é possível.
- Deus, Tu és contraditório. Amas incondicionalmente o justo e o bandido, como o Cristo, no alto do Corcovado, eternamente de braços abertos.
- Esta é a razão do meu cansaço, esse amor por toda criatura.
- Deus, não vês que sofro?
- Sofro contigo.
- Mas, pra que o sofrimento? Tu o inventaste?
- Tudo foi criado por mim.
- Pra quê?
- Ainda não sei – retrucou num olhar só alma.
- Deus, não tens resposta? És como sou?
- Sim.
- Por quê?
- Preciso.
Meu corpo escorregou pelo sofá até o chão.
- Vieste aqui na minha casa...
- Conversar. Vivo tão só.
- Teu sofrimento é infinito, ninguém para entender-Te.
- Não há o Tempo. Tudo é simultâneo, princípio, meio e fim.
- E agora – quis saber – em que momento estamos?
- No eterno. Sempre no eterno.
- Deus, não compreendo.
- E quem disse que devias?
- Bem, mas estamos nos comunicamos, não estamos?
- No Amor. Só há comunicação no Amor.
- Então, somos dois?
- Somos Um.
Mais uma vez supliquei:
- Explique!
Carinhosamente, Deus me tomou pelas mãos e levou-me de volta para o quarto. Beijou-me a face e sumiu, deixando-me sozinha diante do Absoluto.
Não tive medo. Bocejei feliz e fui dormir novamente.
- Então, somos dois?
- Somos Um.
Mais uma vez supliquei:
- Explique!
Carinhosamente, Deus me tomou pelas mãos e levou-me de volta para o quarto. Beijou-me a face e sumiu, deixando-me sozinha diante do Absoluto.
Não tive medo. Bocejei feliz e fui dormir novamente.
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