domingo, 16 de janeiro de 2011

Saudades póstumas


         No centro de tudo eu. E o que é tudo? Os meus olhos não conseguem ver nada. O Chão é claro, branco. O Teto, não muito alto, é tão alvo quanto o solo. As Paredes de tão longes parecem inatingíveis. E no centro de tudo eu. Uma angústia começa a afligir-me. Meus olhos ardem. Não conseguem distinguir Chão, Parede e Teto desse enorme salão branco. Cima e embaixo.
         De repente grandes objetos metálicos se aproximam com uma velocidade indelicada. São enormes esferas de chumbo. Elas giram em um balé desordenado, imitando as órbitas elípticas dos planetas. E eu no centro como o Sol. Em um movimento de aceleração constante elas se emparelham e rodam ao meu torno. E, de forma espiral, se aproximam de mim. Tenho medo, mas estou aqui. E daqui não posso fugir. Tenho que agüentar, sê forte. Grito. As esferas param. E de dentro delas sai um barulho ensurdecedor. Um ruído que me incomoda. Que me enlouquece. Me desorienta. Grito. Elas se afastam. Calam-se. Param.
         Começo a correr nesse espaço inexplorável. Quanto mais eu corro, mais perdido fico em meio ao nada. Tento encontrar as Paredes mas começo a perceber que elas não existem. Caio e deito no chão. Um líquido arroxeado, viscoso e grosso começa a brotar do Teto. Infiltra e cai em gotas rápidas. Em todas as partes, essa substância escorre e se acumula no Chão. Curioso, toco nesse material. Uma sensação terrível passa por mim. Uma queimadura. Um choque elétrico. Um calafrio. Afasto-me. Porém o líquido começa a se acumular, e a avançar sobre mim. Não tenho para onde correr. O nível me alcança e vai lentamente tomando meu corpo. Dói. Fere. Começo a chorar. Inutilmente. Quanto mais me debato, mais torturado eu sou. Sofro. O nível, e sua sensação medonha, alcançam meu pescoço. Olho angustiado pro Teto. Não sinto meu corpo. O líquido lentamente vai tomando minha boca. Meu olhar firme treme por alguns segundos. Afogo-me.
         O cheiro das velas e das flores incomoda meu nariz. Com as costas das mãos, enxugo meu rosto inchado. Derramo minha última lágrima. Minha vida acabou. Naquele caixão jaz toda a minha vida, o meu amor. No meu coração resta apenas um vazio imenso, cheio de saudade.

Rivaldo Júnior

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