No centro de tudo eu. E o que é tudo? Os meus olhos não conseguem ver nada. O Chão é claro, branco. O Teto, não muito alto, é tão alvo quanto o solo. As Paredes de tão longes parecem inatingíveis. E no centro de tudo eu. Uma angústia começa a afligir-me. Meus olhos ardem. Não conseguem distinguir Chão, Parede e Teto desse enorme salão branco. Cima e embaixo.
De repente grandes objetos metálicos se aproximam com uma velocidade indelicada. São enormes esferas de chumbo. Elas giram em um balé desordenado, imitando as órbitas elípticas dos planetas. E eu no centro como o Sol. Em um movimento de aceleração constante elas se emparelham e rodam ao meu torno. E, de forma espiral, se aproximam de mim. Tenho medo, mas estou aqui. E daqui não posso fugir. Tenho que agüentar, sê forte. Grito. As esferas param. E de dentro delas sai um barulho ensurdecedor. Um ruído que me incomoda. Que me enlouquece. Me desorienta. Grito. Elas se afastam. Calam-se. Param.
Começo a correr nesse espaço inexplorável. Quanto mais eu corro, mais perdido fico em meio ao nada. Tento encontrar as Paredes mas começo a perceber que elas não existem. Caio e deito no chão. Um líquido arroxeado, viscoso e grosso começa a brotar do Teto. Infiltra e cai em gotas rápidas. Em todas as partes, essa substância escorre e se acumula no Chão. Curioso, toco nesse material. Uma sensação terrível passa por mim. Uma queimadura. Um choque elétrico. Um calafrio. Afasto-me. Porém o líquido começa a se acumular, e a avançar sobre mim. Não tenho para onde correr. O nível me alcança e vai lentamente tomando meu corpo. Dói. Fere. Começo a chorar. Inutilmente. Quanto mais me debato, mais torturado eu sou. Sofro. O nível, e sua sensação medonha, alcançam meu pescoço. Olho angustiado pro Teto. Não sinto meu corpo. O líquido lentamente vai tomando minha boca. Meu olhar firme treme por alguns segundos. Afogo-me.
O cheiro das velas e das flores incomoda meu nariz. Com as costas das mãos, enxugo meu rosto inchado. Derramo minha última lágrima. Minha vida acabou. Naquele caixão jaz toda a minha vida, o meu amor. No meu coração resta apenas um vazio imenso, cheio de saudade.
Rivaldo Júnior
De repente grandes objetos metálicos se aproximam com uma velocidade indelicada. São enormes esferas de chumbo. Elas giram em um balé desordenado, imitando as órbitas elípticas dos planetas. E eu no centro como o Sol. Em um movimento de aceleração constante elas se emparelham e rodam ao meu torno. E, de forma espiral, se aproximam de mim. Tenho medo, mas estou aqui. E daqui não posso fugir. Tenho que agüentar, sê forte. Grito. As esferas param. E de dentro delas sai um barulho ensurdecedor. Um ruído que me incomoda. Que me enlouquece. Me desorienta. Grito. Elas se afastam. Calam-se. Param.
Começo a correr nesse espaço inexplorável. Quanto mais eu corro, mais perdido fico em meio ao nada. Tento encontrar as Paredes mas começo a perceber que elas não existem. Caio e deito no chão. Um líquido arroxeado, viscoso e grosso começa a brotar do Teto. Infiltra e cai em gotas rápidas. Em todas as partes, essa substância escorre e se acumula no Chão. Curioso, toco nesse material. Uma sensação terrível passa por mim. Uma queimadura. Um choque elétrico. Um calafrio. Afasto-me. Porém o líquido começa a se acumular, e a avançar sobre mim. Não tenho para onde correr. O nível me alcança e vai lentamente tomando meu corpo. Dói. Fere. Começo a chorar. Inutilmente. Quanto mais me debato, mais torturado eu sou. Sofro. O nível, e sua sensação medonha, alcançam meu pescoço. Olho angustiado pro Teto. Não sinto meu corpo. O líquido lentamente vai tomando minha boca. Meu olhar firme treme por alguns segundos. Afogo-me.
O cheiro das velas e das flores incomoda meu nariz. Com as costas das mãos, enxugo meu rosto inchado. Derramo minha última lágrima. Minha vida acabou. Naquele caixão jaz toda a minha vida, o meu amor. No meu coração resta apenas um vazio imenso, cheio de saudade.
Rivaldo Júnior
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