quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Caminho (Camilo Pessanha)



Tenho sonhos cruéis; n'alma doente 
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente... 

Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!... 

Porque a dor, esta falta d_harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d'agora, 

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.   


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