quarta-feira, 28 de março de 2012

um poema que não precisa, necessariamente, ser vermelho


havia um homem
que vivia sua vida vermelha.
todos os dias, acordava de seu sono vermelho
se levantava de sua cama vermelha
tomava seu banho vermelho
e seu café vermelho.
saía pra seu trabalho vermelho
no seu carro vermelho.
parava no sinal, que por coincidência, também era vermelho.
ligava o som vermelho
e fechava os vidros vermelhos
de seu carro vermelho
pra não ver a cor dos meninos do sinal
vermelho.
comprava um jornal vermelho
lia as notícias vermelhas
e formava sua opinião vermelha acerca delas.
passava o dia vermelho
com pessoas vermelhas.
sorria vermelho,
quando sorria.
gastava seu tempo curto e vermelho
em fazer coisas vermelhas
mesmo que preferisse às amarelas ou às azuis.
mas fazia, porque tudo era vermelho.
chegando a noite vermelha,
chegava à casa vermelha,
com dores de coluna e centavos de salário vermelhos.
deitava a cabeça vermelha
no travesseiro vermelho
e fechava os olhos vermelhos pra deixar tudo escuro
e voltar pro sono vermelho de onde viera.

lá fora,
três tiros.
uma sirene.
dois cheira-colas estirados no chão.
uma só poça de sangue,
a única coisa realmente vermelha nessa história,
mas que permaneceu incolor.

Rivaldo Júnior
  

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