havia um homem
que vivia sua vida vermelha.
todos os dias, acordava de seu sono vermelho
se levantava de sua cama vermelha
tomava seu banho vermelho
e seu café vermelho.
saía pra seu trabalho vermelho
no seu carro vermelho.
parava no sinal, que por coincidência, também era vermelho.
e fechava os vidros vermelhos
de seu carro vermelho
pra não ver a cor dos meninos do sinal
vermelho.
comprava um jornal vermelho
lia as notícias vermelhas
e formava sua opinião vermelha acerca delas.
passava o dia vermelho
com pessoas vermelhas.
sorria vermelho,
quando sorria.
gastava seu tempo curto e vermelho
em fazer coisas vermelhas
mesmo que preferisse às amarelas ou às azuis.
mas fazia, porque tudo era vermelho.
chegando a noite vermelha,
chegava à casa vermelha,
com dores de coluna e centavos de salário vermelhos.
deitava a cabeça vermelha
no travesseiro vermelho
e fechava os olhos vermelhos pra deixar tudo escuro
e voltar pro sono vermelho de onde viera.
lá fora,
três tiros.
uma sirene.
dois cheira-colas estirados no chão.
uma só poça de sangue,
a única coisa realmente vermelha nessa história,
mas que permaneceu incolor.