sábado, 30 de abril de 2011

De ontem em diante (O Teatro Mágico)





















De ontem em diante serei o que sou no instante agora.
Onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa
Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a madrugada
são coisas distintas,
Separadas pelo canto de um galo velho.
Eu apóstolo contigo que não sabes do evangelho
Do versículo e da profecia.
Quem surgiu primeiro? o antes, o outrora, a noite ou o dia?
Minha vida inteira é meu dia inteiro.
Meus dilúvios imaginários ainda faço no chuveiro!
Minha mochila de lanches?
É minha marmita requentada em banho Maria!
Minha mamadeira de leite em pó
É cerveja gelada na padaria.
Meu banho no tanque?
É lavar carro com mangueira.
E se antes, um pedaço de maçã
Hoje quero a fruta inteira.
E da fruta tiro a polpa... da puta tiro a roupa.
Da luta não me retiro,
Me atiro do alto e que me atirem no peito
Da luta não me retiro...
Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem...

domingo, 24 de abril de 2011

Poema tirado de um trabalho da 3ª Série

 
Na Terra,
Antigamente existia muitos dinossauros.
Eles eram grandes e fortes e bravos.
Muitos eram carnívoros, e comiam carne.
Uns eram herbívoros.
Eles dominavam a Terra e tudo que nela existia.
Por que eram grandes e fortes e bravos.

                                                    Um dia veio um meteoro,
                                                                                   e matou todos eles.
Rivaldo Júnior 

sábado, 23 de abril de 2011

Cheiro de Nós (Santanna)

 



















É como um cheiro de paixão
A me envolver o coração
É como cheiro de amor
É como um verso ponteado
É como o sol alaranjado
Que insiste em não se pôr
É como casa de caboclo
É como a sala de reboco
Que o poeta cantou
É como o cheiro da morena
Linda flor de açucena
Que em meu peito cochilou
É como um cheiro de saudade
Que na verdade nunca vai sair de mim
Anda comigo desde o tempo de menino
Acompanha o meu destino
Me faz tão feliz assim

domingo, 17 de abril de 2011

Índigo


                                                                                                                   terminará o dia. cairá a última gota. o céu se abrirá. cantarão as pedras. as flores gritarão. herdeiros do fim do mundo. vermelho, roxo. riacho seco. na casa primavera que tudo que é vivo um dia já passou, na pancada da dor que late. do peso dos anos. silêncio. O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão. aceito a culpa. dialogo com o cajado que trago. a serpente que me confessa. minhas raízes secas. meu miolo oco. rachadura da cara. as vibras das veias desatam de meu corpo. claridão. trovão que teima em correr pelo ar. rodopia. e as barrancas sobem. e as planícies descem. capitanias hereditárias. na constância do fogo. no vento da guerra. sangue. ninguém tem mais dúvidas. sangue. a metamorfose do calor. unhas encravadas. rangidos de dentes. o milagre do fim. desdobramento do céu. na queda da lua. a dança das estrelas. o acordo dos fracos. submissão única do que é vivo através do que é imortal. porque tudo que é vivo um dia tem que morrer. e é morrendo que se vive para a vida eterna. externa. enferma. enterra. o último estalo de piedade no meio de cores vivas. ninguém tem mais dúvidas. o giz de cera ainda risca traços nas árvores mortas. palhaços do soluço. nos trilhos desgrenhados da idade. Já vou. me faço criança. pequeno homem. e desce do céu. na maior de todas as glórias. uma grande. um imenso. uma voz. um espaço. uma nova dimensão. uma outra medida. indigno sou de olhar-   , de falar-   . vem, extrato, sumo, âmago! traduz esses gritos como misericórdia. e arrasta todos os teus para ti. leva-nos daqui. pois o aqui, já não mais existe.
Rivaldo Júnior

sábado, 9 de abril de 2011

O palhaço do circo sem-futuro (Cordel do Fogo Encantado)


E a lona rasgada no alto
No globo os artistas da morte
E essa tragédia que é viver, e essa tragédia
Tanto amor que fere e cansa... 

Sou palhaço do circo sem futuro
Um sorriso pintado a noite inteira...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Fluidos aleatórios

Adorava sentir a areia se quebrar com os meus passos. Adorava? Disse assim? Adoro. O mundo, o silêncio, a atenção em absolutamente nada, e o mar... e eu, e o mar e eu. Nada fora do costume. Sentar-se à beira da onda mais forte. Sentir o aroma salgado das horas... sentei. Senti. Ele lá. Bravo. Desafiador. Na sua eterna ignorância. No seu vai-e-vem contínuo. Na sua dança. Seu desdobrar-se em mil mares. Mil marés. Parecia nervoso. Cansado? Doente. Não. Não parecia nada disso. Era ele e ele me reconhecia. E dançava. E cantava o som eternamente produzido. E pintava a areia a cada pincelada do vento. E o seu azul! Ah... o seu azul. O azul das cores infinitas. E o verde. E o azul outra vez mais. A crista da onda grande. A abertura da água em mais água. Quanta água! Oscilante. Perfurada. Mecanicamente incomum. A espuma cintilante voa no embalo das brisas. Viaja. Maresia. Salina. Salgado. Sagrado. Doce gosto salgado do vento. Dos grãos que pregam em minha pele. Que vem. Que vão. Que se transformam. Vapor. Nuvem. Chuva. Água. E volta pro grande pai. Entrego-me. Deixo cantar em meu ouvido. Vuáá. Vuáá. A tristeza da rocha. Seus músculos de pedra. Sacrifício. As lágrimas da lua. O milagre do sol. Fogo e água. Saindo e entrando e saindo. E... mais nada! Ele já se basta. Se faz. Se eterniza. Olho por cima. Olho de cima. Olho em cima. A entrega do segredo. A grande esfera azul. Uma gota. Um respingo. Uma resposta. E só. A guerra necessária. E a paz estática. Que fazer? Ser mar; amar; clamar; acalmar; aclamar. Declamar. Mar... Lembro-me aqui de uma passagem. Neruda? Talvez, mas cabe e finaliza:
                                                                 "Aqui na Ilha, o mar, e quanto mar. Sai de si mesmo a cada momento. Diz que sim, que não, que não. Diz que sim, em azul, em espuma, em galope. Diz que não, que não. Não pode sossegar. Me chamo mar, repete se atirando contra uma pedra sem conhecê-la. E então, com sete línguas verdes, de sete tigres verdes, de sete cães verdes, de sete mares verdes, percorre-a, beija-a, umedece-a e golpeia-se o peito repetindo seu nome".
Rivaldo Júnior

terça-feira, 5 de abril de 2011

Congresso Internacional do Medo (Carlos Drummond de Andrade)


 



















Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

sábado, 2 de abril de 2011

Alegria, alegria (Caetano Veloso)

Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou...

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou...
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot...



O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
 
Por que não, por que não...

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou...

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou...

Por entre fotos e nomes


Sem livros e sem fuzil
 

Sem fome, sem telefone

No coração do Brasil...




Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou...

Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou...




Por que não, por que não...