domingo, 17 de abril de 2011

Índigo


                                                                                                                   terminará o dia. cairá a última gota. o céu se abrirá. cantarão as pedras. as flores gritarão. herdeiros do fim do mundo. vermelho, roxo. riacho seco. na casa primavera que tudo que é vivo um dia já passou, na pancada da dor que late. do peso dos anos. silêncio. O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão. aceito a culpa. dialogo com o cajado que trago. a serpente que me confessa. minhas raízes secas. meu miolo oco. rachadura da cara. as vibras das veias desatam de meu corpo. claridão. trovão que teima em correr pelo ar. rodopia. e as barrancas sobem. e as planícies descem. capitanias hereditárias. na constância do fogo. no vento da guerra. sangue. ninguém tem mais dúvidas. sangue. a metamorfose do calor. unhas encravadas. rangidos de dentes. o milagre do fim. desdobramento do céu. na queda da lua. a dança das estrelas. o acordo dos fracos. submissão única do que é vivo através do que é imortal. porque tudo que é vivo um dia tem que morrer. e é morrendo que se vive para a vida eterna. externa. enferma. enterra. o último estalo de piedade no meio de cores vivas. ninguém tem mais dúvidas. o giz de cera ainda risca traços nas árvores mortas. palhaços do soluço. nos trilhos desgrenhados da idade. Já vou. me faço criança. pequeno homem. e desce do céu. na maior de todas as glórias. uma grande. um imenso. uma voz. um espaço. uma nova dimensão. uma outra medida. indigno sou de olhar-   , de falar-   . vem, extrato, sumo, âmago! traduz esses gritos como misericórdia. e arrasta todos os teus para ti. leva-nos daqui. pois o aqui, já não mais existe.
Rivaldo Júnior

Nenhum comentário:

Postar um comentário