quinta-feira, 7 de abril de 2011

Fluidos aleatórios

Adorava sentir a areia se quebrar com os meus passos. Adorava? Disse assim? Adoro. O mundo, o silêncio, a atenção em absolutamente nada, e o mar... e eu, e o mar e eu. Nada fora do costume. Sentar-se à beira da onda mais forte. Sentir o aroma salgado das horas... sentei. Senti. Ele lá. Bravo. Desafiador. Na sua eterna ignorância. No seu vai-e-vem contínuo. Na sua dança. Seu desdobrar-se em mil mares. Mil marés. Parecia nervoso. Cansado? Doente. Não. Não parecia nada disso. Era ele e ele me reconhecia. E dançava. E cantava o som eternamente produzido. E pintava a areia a cada pincelada do vento. E o seu azul! Ah... o seu azul. O azul das cores infinitas. E o verde. E o azul outra vez mais. A crista da onda grande. A abertura da água em mais água. Quanta água! Oscilante. Perfurada. Mecanicamente incomum. A espuma cintilante voa no embalo das brisas. Viaja. Maresia. Salina. Salgado. Sagrado. Doce gosto salgado do vento. Dos grãos que pregam em minha pele. Que vem. Que vão. Que se transformam. Vapor. Nuvem. Chuva. Água. E volta pro grande pai. Entrego-me. Deixo cantar em meu ouvido. Vuáá. Vuáá. A tristeza da rocha. Seus músculos de pedra. Sacrifício. As lágrimas da lua. O milagre do sol. Fogo e água. Saindo e entrando e saindo. E... mais nada! Ele já se basta. Se faz. Se eterniza. Olho por cima. Olho de cima. Olho em cima. A entrega do segredo. A grande esfera azul. Uma gota. Um respingo. Uma resposta. E só. A guerra necessária. E a paz estática. Que fazer? Ser mar; amar; clamar; acalmar; aclamar. Declamar. Mar... Lembro-me aqui de uma passagem. Neruda? Talvez, mas cabe e finaliza:
                                                                 "Aqui na Ilha, o mar, e quanto mar. Sai de si mesmo a cada momento. Diz que sim, que não, que não. Diz que sim, em azul, em espuma, em galope. Diz que não, que não. Não pode sossegar. Me chamo mar, repete se atirando contra uma pedra sem conhecê-la. E então, com sete línguas verdes, de sete tigres verdes, de sete cães verdes, de sete mares verdes, percorre-a, beija-a, umedece-a e golpeia-se o peito repetindo seu nome".
Rivaldo Júnior

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