quinta-feira, 30 de maio de 2013

um resumo da vida de cristóvão colombo neto



era uma vez,
um rapaz magrelo
de cabeça grande,
que usava suéter
verde-petróleo,
para combinar
com as meias metidas
no sapato social.

um belo dia,
o rapaz magrelo
abandonou a família,
caiu no mundo.
decidiu ser músico,
viver de rock'n'roll.
sumiu como fumaça,
gritou à meia noite
no farol vermelho
do cruzamento
do centro da cidade.
virou lenda,
usou turbante,
tatuou o nome da sua mãe
num coração
no braço direito,
tirou a roupa
em praça pública,
fumou maconha
e fez amor com
trinta e sete mulheres
diferentes em um mês.
deixou o cabelo crescer,
usou rastafári,
raspou a cabeça,
chapéu panamá.
aos vinte e nove anos,
já havia cruzado
a fronteira do paraguai
quarenta e duas vezes
e nunca se arrependera
em toda a sua vida.
não conhecia o tempo,
a dor e a censura.
chegou na venezuela,
embarcou em cuba,
atravessou o deserto,
o sol de miami beach.
virou marujo
em plena flórida
e nunca alcançou a califórnia
e a vida, não aprendeu
sequer a nadar.
navio seguiu,
le champ des femmes,
atlântico, frança,
chegou em paris.
buscou o oriente,
andou sem parar,
praga, kiev, rússia,
cáspio, teerã, cabul,
paquistão, nova délhi.
descobriu as índias,
comeu hiduísmo,
banhou-se no ganges
e encontrou-se ali.

até que envelheceu,
pintou os cabeloS,
pagou o ipva, iptu e inss.
fez o depósito no banco,
a parcela do cartão,
chegou em casa
cansado e frio,
abriu o guarda-roupa,
vestiu o suéter
verde-petróleo.
parou de inventar histórias.


Rivaldo Júnior

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Com açúcar, com afeto (Chico Buarque)





Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa, qual o quê!

Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa.

Você diz que é um operário, vai em busca do salário
Pra poder me sustentar, qual o quê!

No caminho da oficina, existe um bar em cada esquina
Pra você comemorar, sei lá o quê!

Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto
Discutindo futebol...

E ficar olhando as saias de quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol.

Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma non troppo
Você vai querer cantar!

Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo
Pra você rememorar.

Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão, qual o quê!

Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração.

E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado,
Ainda quis me aborrecer? Qual o quê!

Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato
E abro os meus braços pra você.


quinta-feira, 9 de maio de 2013

Baby (Gal Costa)



Você precisa saber da piscina
Da margarina, da Carolina, da gasolina.
Você precisa saber de mim.
 

Baby, baby, eu sei que é assim.

Você precisa tomar um sorvete
Na lanchonete, andar com a gente, me ver de perto.
Ouvir aquela canção do Roberto.


Baby, baby, há quanto tempo.


Você precisa aprender inglês,
Precisa aprender o que eu sei
E o que eu não sei mais,
E o que eu não sei mais.
Não sei, comigo vai tudo azul,
Contigo vai tudo em paz...


Vivemos na melhor cidade
Da América do Sul, da América do Sul!


Você precisa, você precisa, você precisa...


Não sei, leia na minha camisa:
Baby, baby, I love you!

Poeminha sentimental (Mário Quintana)





O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta,
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora.
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.