quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Hora do Almoço (Belchior)






No centro da sala,
diante da mesa,
no fundo do prato,
comida e tristeza.
A gente se olha,
se toca e se cala
E se desentende
no instante em que fala.

Cada um guarda mais o seu segredo,
sua mão fechada
sua boca aberta
seu peito deserto,
sua mão parada,
lacrada,
selada,
molhada de medo.

Pai na cabeceira: É hora do almoço.
Minha mãe me chama: É hora do almoço.
Minha irmã mais nova, negra cabeleira...
Minha avó me chama: É hora do almoço.



... E eu inda sou bem moço
pra tanta tristeza.
Deixemos de coisas,
cuidemos da vida,
senão chega a morte
ou coisa parecida,
e nos arrasta moço
sem ter visto a vida.

- ou coisa parecida 


sábado, 24 de novembro de 2012

nunca pensei que o amor fosse algo tão comum








amor,
me dê seu sorriso
embrulhado
num guardanapo
em um bar
escondido numa ladeira
de campina grande.
que eu levo pra casa e colo na parede do meu quarto perto da penteadeira suja de poeira]
e te amarei bem mais que ontem.


Rivaldo Júnior


ah, por favor.








todo mundo ama
ninguém desama.
esta é
a verdadeira
lei
do
cão.


Rivaldo Júnior


vadiagem









a vida 
é uma virgem
vadia.








Rivaldo Júnior

válvula mitral






dentro desse meu coração ruído
há uma espécie de liberdade embriagada
frágil solitária
dentro desse meu coração ruído
há pessoas, planos e afazeres domésticos
há coisas e causos
dentro desse meu coração ruído
há uma canção que não se ouve
houve perdas e obstáculos
e um futuro preso no passado
dentro desse meu coração ruído
há uma saída, uma voz
um tom surdo pálido doente
dentro desse meu coração ruído
eu creio que há uma velha esperança
da juventude que queria ver o dia nascer feliz
por um triz
havia eu
dentro desse meu coração ruído.


Rivaldo Júnior

reticências








a, v, i, d, a, é, m, u, i, t, o, c, u, r, t, a, p, r, a, g, e, n, t, e, p, a, r, a, r, e, m, c, a, d, a, v, í, r, g, u, l, a, q, u, e, a, p, a, r, e, c, e...


Rivaldo Júnior

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Poema Tirado de uma Notícia de Jornal (Manuel Bandeira)






João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número]
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.