sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ponto Cego (Cícero)





Quando
De vez em quando
Talvez um tanto
Faz tanto fez
Passando a vez
De par em par
Le petit prince égoïst
E sua flor de uísque
Em seu planeta sem cor
Mas quem se importa?


Somos
A vez dos zonzos
Talvez enquanto
Quisermos ser
Daqui pra já
Eu e você
Daqui pra lá
Não vai sobrar
Nada pra ser
Mas quem se importa?


É sexta-feira, amor! Sexta-feira!


Tanto

Faz qualquer canto
Pra qualquer santo
Que saiba ler
Que queira dar
Sem receber
Que esteja a par
Do que vai ver
De onde vai dar
Mas quem se importa?
É sexta-feira, amor!
Tem quem queira!


Giramundocão 
Giramundocão   Giramundocão   Giramundocão   Giramundocão   Giramundocão   Giramundocão   Giramundocão   Giramundocão   Giramundocão  

quinta-feira, 26 de abril de 2012

dentro do meu violão, ainda está o bilhete que você me mandou


às seis, sem ana passei a semana sem paz.
a face se assanha, se faz-se de manha fugaz.

não queria ler quintana
quinta-feira, fim de semana.
sim, por favor. obrigado.

se o céu fosse desse tamanho eu caberia dentro dele duas vezes.
se não, não.

Rivaldo Júnior 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Adiamento (Álvaro de Campos)

                    



Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o rnundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

são sete horas e dadaísmo, senhor.




                       eu,  

                                                                                       quis, 
                                  assim,                                                                  viver, 
não.


mas,                                                                                                     você, 
porquê, 
                          desfez,                                                           mal-fez,                                   
                                                   sorriu,
                                                                                                     pra mim,
                                                       te dou, 
não vou,                                                                                             poderei,
                                                                            chorar, 
                                                enquanto, 
             entretanto, 

vivi feliz. 

Rivaldo Júnior

quinta-feira, 19 de abril de 2012

propriedade privada




saquem as espadas, soldados!
cruzem as cruzes cruas. as ruas.
- quem vai chorar por eles, se não nós? 
Rivaldo Júnior

segunda-feira, 16 de abril de 2012

procriação






para aquilo que o move, promove.
para aquilo que o veja, proveja.
para aquilo que o teste, proteste.


Rivaldo Júnior

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Teresa (Manuel Bandeira)



A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
 
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
 
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Sublime Cruz (Fagundes Varela)



Estrelas
Singelas
Luzeiros
Fagueiros,
Esplêndidos, que o mundo aclarais!
Deserto e mares, - florestas vivazes!
Montanhas audazes que o céu topedais!
Abismos
Profundos!
Cavernas
Externas!
Extensos,
Imensos
Espaços
Azuis!
Altares e tronos,
Humildes e sábios, soberbos e grandes!
Dobrai-vos ao vulto sublime da cruz!
Só ela nos mostra da glória o caminho,
Só ela nos fala das leis de - Jesus!