segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Mãos dadas (Carlos Drummond de Andrade)




Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.





Tributo ao poeta do mundo.

domingo, 30 de outubro de 2011

Juízo Final (Nelson Cavaquinho)





O sol... há de brilhar mais uma vez.
       A luz... há de chegar aos corações!
Do mal... será queimada a semente.
O amor... será eterno novamente...



É o Juízo Final, 
                 a história do bem e do mal!

Quero ter olhos pra ver, 
                     a maldade desaparecer...





quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Prova pericial




















"Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens, e estará sujeita à cobrança após o sinal. Bip."

Não sei se você está me ouvindo,
Se você ainda sabe que vivo aqui...
Se já deu tempo suficiente pra me matar dentro de ti.

Não sei se sou ainda importante o mínimo de um último pedido,
um último recado
uma última palavra
um último suspiro...

não desligue o telefone, espere por favor.

Só estou ligando,  pra te pedir, por favor...
Já que decidiste ir embora, de uma vez por todas,
sem ao menos olhar pra trás,
sem ao menos ponderar as circunstâncias vividas,
os momentos construídos...
as minhas mais sólidas esperanças de vida -
que agora não representam mais nada!

Já que decidiste ir embora sem ao menos se preocupar comigo,
com o nosso amor,
te peço:

Morra o quanto antes 
e da forma mais dolorosa possível.

sentirei sua falta.
Rivaldo Júnior

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Nantes (Beirut)




Well it's been a long time, long time now...
Since I've seen you smile.

And I'll gamble away my fright,
And I'll gamble away my time.
And in a year, a year or so...
This will slip into the sea,
Well it's been a long time, long time now,
Since I've seen you smile!

Nobody raise your voices,
Just another night in Nantes.
Nobody raise your voices,
Just another night in Nantes.




terça-feira, 18 de outubro de 2011

Da influência dos espelhos (Mário Quintana)



Tu lembras daqueles grandes espelhos côncavos ou convexos que em certos estabelecimentos os proprietários colocavam à entrada para atrair os fregueses, achatando-os, alongando-os, deformando-os nas mais estranhas configurações? Nós, as crianças de então, achávamos uma bruta graça, por saber que era tudo ilusão, embora talvez nem conhecêssemos o sentido da palavra "ilusão".
Não, nós bem sabíamos que não éramos aquilo!
Depois, ao crescer, descobrimos que, para os outros, não éramos precisamente isto que somos, mas aquilo que os outros vêem.
Cuidado, incauto leitor! Há casos, na vida, em que alguns acabam adaptando-se a essas imagens enganosas, despersonalizando-se num segundo "eu". Que pode uma alma, ainda por cima invisível, contra o testemunho de milhares de espelhos?

Eis aqui um grave assunto para um conto, uma novela, um romance, ou uma tese de mestrado em Psicologia.
                        

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Poeminha sem-graça



Meu amor,
o nosso amor
não vai ter fim

do mesmo modo que esse poeminha não tem ponto final

Rivaldo Júnior
                        

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Dois e dois são quatro (Ferreira Gullar)



Como dois e dois são quatro,
Sei que a vida vale a pena.
Embora o pão seja caro,
E a liberdade pequena.


Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena.
Como é azul o oceano
E a lagoa, serena!

Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena...
E a noite carrega o dia,
No seu colo de açucena.

- Sei que dois e dois são quatro!
Sei que a vida vale a pena!
Mesmo que o pão seja caro,
e a liberdade pequena.

                        

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Saudade da boa (Flávio José)




Quando penso em você,
o meu olhar se enche d'água...
não tenho um pingo de mágoa,
É só saudade da boa!

Que fica na lembrança de um beijo,
Do abraço que ninguém me deu igual,
Da noite que valeu por todas que eu vivi...
O tempo foi passando e eu fiquei
Por todos os amores aonde andei, tentei,
Mas nunca deu pra esquecer de ti.

Ai, ai! Meu coração...
Passa dia, mês e ano,
Não consigo te esquecer.
Ai, ai! Meu coração...
Ainda bate apaixonado
Com saudade de você.



                        

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

¿por qué no te callas?




















senhor, livrai-me da cegueira da ignorância.
Que meus olhos possam ver o que meu corpo já não sente.
e que minha boca proclame a verdade.

uma gaiola desensina o pássaro a voar.

"engula o choro! engula o choro!"
o menino triste tem medo de falar ao público.
juventude sem voz... 
arrancaram nossas cordas vocais. 
soda dissolvido no leite.

dizem que isso é contagioso...
e eu me deixo (de) acreditar.

Rivaldo Júnior

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ismália (Alphonsus de Guimaraens)

Quando Ismália enlouqueceu...
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...