terça-feira, 24 de maio de 2011

Morte e Vida Stanley (Cordel do Fogo Encantado)

Na madrugada de vento seco,
No clarão da grande lua prateada
No recôncavo do sol...
Na montanha mais longe do mar
Numa serra talhada, espinho fechado, coivara, caieira, vereda...
Distância da rua.
Mato, cerca, pedra, fogo, faca, lenha,
Cerca, bote, bala, bote, bala, bote, senha!
Tabuleiro, tabuleiro em pó
 
Na pedra dos gaviões
Uma mulher deitada
O nome é Maria
A dor conduzindo o filho terceiro
Nas garras do mundo sem guia...
 
- Vai nascer outro homem,
Ouviram!
-Vai nascer outro homem,
Outro homem!

O seu nome é Stanley
Mais um filho da pedra dos gaviões
Da montanha,
Do recônvavo do sol.
E eu aqui vou cantar
Sua morte, sua vida
Seu retrato sem cor
Seu recado sem voz
Morte e vida Stanley
 

sábado, 21 de maio de 2011

Quinta-feira, 5 de maio de 2011

Acordei cedo esta manhã.
Abri o sorriso
Abri os olhos
Abri a janela
Abri a porta
Abri o mundo.

Vou vivendo em quanto posso
Enquanto resta ar para respirar
Enquanto minhas pernas aguentam
o peso do meu corpo morto,
do meu sorriso aberto.
Enquanto ainda está claro
Logo, logo escurece...

A chuva que cai não molha só minha rua
Molha minha alma em gotas de sangue.
Sangue, lágrima, suor.
Chuva.
Levanto a cabeça
Respiro fundo
Abro o céu.

Faces passam pela rua suja.
E outras ficam sob meus pés.
Misturam-se na lama poluindo o ambiente.
Ninguém as nota.
Melhor assim.
Curvo meus olhos.
Paro o movimento.
Prossigo.

"Olha a bala!"
O inocente aviso do vendedor de doces 
me causa pânico.

Faces continuam passando
Numa correnteza humana.
Arrastando o que ousar em estar a frente.
Deixando para trás.
Tristes, sós.
A procura do que não se acha.
Do melhor da vida.
Da vida melhor.
Da vida perdida.
Por uma bala encontrada no meio do caminho.

tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra

Olha a bala!
Olha a bola!
Olha a pedra.
Paro.
Me empurram para fora.
Me empurram para dentro.
Mas pra quê tanta pressa, gente!
Todos querem um lugar ao sol.
Querem um lugar à chuva
Que volta a cair.
E carregar o entulho humano
por entre becos e vielas escuras.
Me leve de uma vez por todas.

Anoitece cedo hoje.
Fecho o mundo.
Fecho a porta
Fecho a janela
Fecho os olhos
Fecho o sorriso.
Que, pra falar a verdade, nunca deveria ter aberto.
Rivaldo Júnior

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Jack Soul Brasileiro (Lenine)

Jack Soul Brasileiro,
E que som do pandeiro
É certeiro e tem direção.
Já que subi nesse ringue
E o país do swing
É o país da contradição...
Eu canto pro rei da levada
Na lei da embolada
Na língua da percussão
A dança, mugango, dengo,
A ginga do mamolengo,
Charme dessa nação...

Quem foi? Que fez o samba embolar?
Quem foi? Que fez o coco sambar?
Quem foi? Que fez a ema gemer na boa?
Quem foi? Que fez do coco um cocar?
Quem foi? Que deixou um oco no lugar?
Quem foi? Que fez do sapo
Cantor de lagoa?...


E diz aí Tião!
Diga Tião! Oi!
Foste? Fui!
Compraste? Comprei!
Pagaste? Paguei!
Me diz quanto foi?
Foi 500 reais
Me diz quanto foi?



Jack Soul Brasileiro
Do tempero, do batuque,
Do truque, do picadeiro,
E do pandeiro, e do repique,
Do pique, do funk rock,
Do toque da platinela,
Do samba na passarela
Dessa alma brasileira,
Despencando da ladeira
Na zueira da banguela...
Alma brasileira
Despencando da ladeira
Na zueira da banguela...


Eu só ponho BEBOP no meu samba
Quando o tio Sam
Pegar no tamborim.
Quando ele pegar
No pandeiro e no zabumba
Quando ele entender
Que o samba não é rumba...
Aí eu vou misturar
Miami com Copacabana
Chiclete eu misturo com banana,
E o meu samba, e o meu samba,
Vai ficar assim...



A ema gemeu... no tronco do juremá!

Eu digo deixa!
Que digo!
Que pensem!
Que fale!
Deixa isso pra lá
Vem pra cá
O que que tem?
Eu não to fazendo nada
Você também,
Não faz mal bater um papo assim gostoso com alguém.

domingo, 15 de maio de 2011

Poema de sete faces (Carlos Drummond de Andrade)


Quando nasci, um anjo torto  
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauchena vida.                                    As casas espiam os homens.
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
 
O bonde passa cheio de pernas:                                            não houvesse tantos desejos.
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.                        Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
Mundo mundo vasto mundo,                                                     se sabias que eu era fraco.
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mas vasto é meu coração.

                                                                          Eu não devia te dizer
                                                                          mas essa lua
                                                                          mas esse conhaque
                                                                          botam a gente comovido como o diabo.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Sinapse Nervosa


M   U           P   NS   ME   T           É          M   IS
R  ´  PI   O           QU          AS        INH    S  
MA    S.  
Rivaldo Júnior

domingo, 8 de maio de 2011

O poema do poeta iludido

Dia desses,
Uma flor veio me contar
Que seus passos andam mais leves...
E seus caminhos, rodopios
Apressados fazem cócegas
Na barriga da estrada.

Essa mesma flor
Ainda me disse,
Que seu corpo está mais cheio
De graça e de beleza.
Seus trejeitos
Tão sem-jeitos
Revelam aquele desejo
De talvez querer um beijo
Que transborde a explosão
Que não mais cabe em seu sorriso.

E essa flor continuou
A dizer-me mais segredos!
Que dissestes sem ter medo
Que aí dentro só cabia eu em teu coração!

Tu me amas!
Sim, me amas!
Como me amas!
Meu amor, coraçãozinho!

O vento varre as folhas secas
Um gato mia...
Miau.

Foi aí que um velho tronco
Desses que só vivem pra viver
Sem nenhuma razão pra vida,
Me chamou de lado e disse:
“Teu amor não mais te ama, tolo poeta,
Porque nunca te amou.
Foi por outro e a outro que ela deu o seu amor.”

Meu amor, coraçãozinho.
As lágrimas que derramei
Regaram aquela flor,
Aquela que me disse bobagens...
E o capim que comerás pela raiz.
Te amo. 
 Rivaldo Júnior

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Coração bate de novo no compasso da serenata (Márcia Guerreiro)

          As cenas são centenárias, mas não há quem não sonhe ser a mocinha ou o mocinho que cruza olhares no embalo de uma serenata, que tenham nos olhos o refelxo da chama amarelada das velas sobre a mesa de jantar e que, emocinados, molhem o sorriso com lágrimas na entrega da rosa.
         O comportamento parece ridículo, mas também não há quem não sonhe em ficar sentado horas esperando o telefone tocar para depois relembrar palavra por palavra dada do outro lado da linha; escrever frases bregas no cartãozinho mais brega ainda (e achar um exemplo de bom gosto e originalidade); ficar sem comer (ou comer demais); ouvir música (melosa) sem descanso e perder o maior tempo imaginando os passos do outro.
         Não há quem não queira ser o motivo da "loucura" e da inspiração (mesmo desastrada) para o versinho que vem assinado pelo Chuchu, pelo Fofo ou pela Gatinha - apelidos que fazem o resto do mundo cair na gargalhada e ele(a) se sentir realmente fofo, um chuchu ou uma gatinha. Os últimos românticos ganharam milhões de companheiros. O romantismo sobreviveu a todas as formas de revoluções de comportamento. Ele pode ter emprestado as vestes da modernidade, mas despido, ainda tem velhas formas que emocionam todas as gerações. Não há como negar.Não há quem não queira ser o te do Eu te amo.