segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Falar sem dizer nada


    Somos muito redundantes. Repetimos, obcecados, as mesmas ideias que já formulamos. Na mesma frase acumulamos informações superpostas, congestionando o trânsito verbal. Empilhamos uma em cima da outra (e seria possível empilhar de outra forma?) as palavras dessa torre de Babel. Perdemos tempo (nosso e alheio) empregando demasiado tempo para se dizer que o tempo não se pode perder. Acrescentando ao dito o que, não-dito, melhor seria não dizer.
    Quando eu chovo, chovo no molhado, o que provoca uma enchente de ideias inúteis. O velho ”SUBIR PARA CIMA” e o mais velho ainda “DESCER PARA BAIXO”.
    Um escritor anuncia na entrevista: ”Estou escrevendo a minha autobiografia”. Maior feito literário seria escrever a autobiografia de outra pessoa. O político afirma no discurso: “Não há outra alternativa!” Mau sinal... Por que mencionar essa outra se alternativa significa justamente outra opção? O garçom comunica: “Servimos canja de galinha”. A canja só pode ser de galinha, a menos que falte galinha nessa canja! O médico pontifica: “O terçol nos olhos é um problema corriqueiro.” Então porque não deixar a palestra para o dia em que o terçol atingir outros órgãos?
    A socióloga debate: “O elo de ligação que une essas pessoas...”. O historiador observa: “Os faraós do Egito”. O economista analisa: ”Os preços aumentaram mais”. A professora interpreta: “O principal protagonista do romance”. O senhor da praça pede: “Você pode repetir de novo?”. O agrônomo conclui: ”Foi culpa dos agrotóxicos que adentraram no interior do solo”. O cantor canta: “Detalhes tão pequenos...”. E alguém, cansado de tanta redundância, diz: ”Precisamos encarar de frente esse problema da redundância!”. Bem, se fôssemos encarar de costas seria um baita torcicolo!

sábado, 13 de novembro de 2010

Um poema à dois

À um pedaço de Mel.


Ame, não fale, demonstre.
Viva, o tempo não espera.
Hoje é o melhor dia de sua vida,
Tudo pode ser diferente.
Faça acontecer o novo
Junte tudo o que você tem de bom.
Neste momento, descobrirás
Que a felicidade realmente existi.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Marca d'lágrima

    Há dias já me abateu o desejo de escrever-vos esta pequena passagem. Faltava, porém, disposição e a inspiração necessária para que eu pudesse sentar-me e dedicar ao teclado as letras aqui dispostas. Contudo; minha preguiça foi vencida pela inconstância do meu cérebro em por as vozes do inconsciente pra fora. 
    Um relógio digital piscava no alto de uma parede. Na pressa da multidão meus passos se confluíam no som que as outras pegadas invisíveis deixavam no concreto. O trem já estaria chegando. Enquanto ele não chegara, procurei um lugar a fim de descansar meu corpo. Avistei um assento e fui a sua direção. Sentei. Ao meu lado, o vazio me acompanhava. Quanto invisíveis somos no meio de tanta gente! De repente, uma moça magra de traços sutis sentou apressada ao meu lado. Pôs a mão no rosto e começou a chorar.
    Nesse momento, um grito de desespero invade a minha alma. Por que a moça estaria chorando? Fiquei imóvel. Ela, coitada, gemia em soluços paulatinos. Fungava. Tremia. Chorava. Sua dor me comoveu. Mas uma força, dessas que só aparecem nos momentos mais indesejáveis, calava-me. À toa. Deveria lhe oferecer ajuda? Mas se ela não gostasse? Se achasse uma intromissão, uma falta de respeito, um entrar em assuntos que não me interessavam? Fiquei calado. Por mais que gritasse, ninguém me ouvia.
    A moça parou de chorar. Retirou de sua bolsa um lenço que levou aos olhos, que já estavam secos de lágrimas. Ficou séria, um pouco rubra. Em sua volta dezenas de corpos a olhavam paralisados. Pareciam frias estátuas de madeira. Bonecos de bronze. E eu era um desses. Uma nova lágrima caiu no chão. Dessa vez sem tantos soluços, mas silenciosamente, cortante. Ela voltara a chorar e eu, insignificantemente, permaneci estático. Um barulho se aproximava. Movimento na estação.
    Como a viajem era longa, procurei um assento, de preferência próximo à janela, onde as imagens distraíam-me e diminuiam o trajeto. Porém, do vidro embaçado apenas extraia-se o vulto da jovem que permanecia enxarcando as mãos. Todavia, mesmo com a sua sombra esvaindo-se à medida que a máquina de ferro rachava os trilhos, ficou intacta em minha alma uma marca de uma lágrima.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mais uma vez (Renato Russo)

Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez eu sei
Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem.

Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja a nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!